Rede de economia solidária, agroeconomia, economia familiar e camponesa, Farmácia Viva. A Economia de Francisco e Clara (EFC) já existe e está presente nas comunidades. "Todos estes saberes e experiências não podem ser considerados mais como ações periféricas. É preciso atuar para que passem a ser o centro do debate sobre economia e desenvolvimento. A pluralidade que está aqui no nosso solo brasileiro é um caldo de cultura colaborativa que vai trazendo esperança, ainda que estejamos vivendo uma realidade de regressão até mesmo civilizatória", afirmou Marina Oliveira, coordenadora de projetos das comunidades atingidas pelo rompimento de barragem da Vale em Brumadinho da Arquidiocese de Belo Horizonte e membro do Grupo de Reflexão e Trabalho para a Economia de Francisco e Clara da PUC Minas durante a live Construindo a Utopia: a Juventude e a Economia de Francisco e Clara. O evento contou também com a participação de Daiane Zito, militante da Pastoral da Juventude com participação ativa em projetos destinados à educação da juventude periférica e do apoio a projetos de mulheres. Em comum, as duas jovens fizeram parte da delegação brasileira que participou do Encontro Mundial da Economia de Francisco em 2020.
"Falar da Economia de Francisco e Clara não é uma opção. Viver as consequências de um rompimento de barragem, de um crime de um grande empreendimento, mostra que precisamos de novos modelos econômicos. Ou a gente vai atrás de novos modelos ou a gente morre também", ressaltou Marina. Moradora de Brumadinho, Marina também foi atingida pelo rompimento da barragem, em janeiro de 2019. "Pouco tempo depois, o Papa Francisco faz esse convite para a sociedade discutir, pensar qual é a economia que nós queremos", pontuou. Marina disse que a EFC é baseada no pilar da sinodalidade, que "é o diálogo, a escuta das bases de diferentes lugares e o espaço para entender qual a igreja que queremos. Encontrar essa economia, encontrar esse mundo, não é simples. E para fazer isso é preciso diálogo. É preciso escutar as dores, os gritos dos territórios, para chegar a um lugar comum".
Assim como Marina, Daiane acredita que a EFC só pode ser pensada e realizada de forma coletiva. "É preciso pensar em uma economia que deixa de ser bolsa de valores e passa a ser o jeito que vamos gerir a nossa alimentação. É discutir como o nosso bairro muda, como a comunidade tem prospecção. Como dar conta de produzir e gerar o dinheiro local", ponderou. Daiane contou como até mesmo a seleção para participar da delegação brasileira selecionada para o encontro foi excludente. "Enquanto jovem, universitária, inserida em movimentos sociais e na igreja, recebi o convite porque trabalhava em uma ONG na época, e não por minha atuação social. Descobri que a maior parte dos jovens que estava sendo selecionado eram jovens brancos, dentro da Universidade, e que os jovens da periferia, que estavam à margem, não teriam como estar nesses espaços para falar da economia que a gente vive e constrói no cotidiano", pontuou. Daiane conta que a sua participação na delegação para o Encontro Mundial foi pensada coletivamente, assim como outras ações têm sido pensadas e realizadas. "A minha perspectiva de construir a EFC nas bases é pensar sobre as mulheres aqui no espaço. Durante a pandemia descobrimos que vários espaços estavam sendo geridos por mulheres. O nosso coletivo pensou em como ajudar. E começamos a discutir a economia a partir destes círculos que as mulheres estavam criando em suas próprias comunidades. E o próximo passo foi pensar como essas mulheres poderiam atingir outras mulheres e criar uma rede", explica.
A live Construindo a Utopia: a Juventude e a Economia de Francisco e Clara é parte da programação do seminário internacional promovido pelo Grupo de Reflexão e Trabalho sobre Economia de Francisco e Clara do Anima PUC Minas. A íntegra do Seminário está disponível no canal PUC Minas Lives no YouTube.