O Brasão

Conscientes de que um brasão traz consigo elementos identificadores da trajetória e dos propósitos de quem ele representa, seja uma pessoa física, seja uma pessoa jurídica, segundo as normas da heráldica eclesiástica, baseados na compreensão da identidade e missão da PUC Minas e com a aprovação do Dicastério para a Cultura e a Educação, em 25/4/2025, apresentamos o que segue.

O brasão é formado de três partes, observando-o de cima para baixo: a tiara e as chaves, o escudo e o listel.

A tiara e as chaves

Acima do escudo, encontra-se a tiara papal, composta pelas ínfulas que descem à direita e à esquerda, cada uma com a cruz evidenciada. A tiara e as chaves são símbolo do Romano Pontífice. A tiara, também chamada de triregnum (três reinos), possui três coroas que a adornam. Segundo a tradição, as três coroas são símbolo da Igreja Militante, Padecente e Triunfante ou indicam os três poderes de ordem, jurisdição e magistério do Papa. As ínfulas, por sua vez, representariam o Antigo e o Novo Testamento ou a Sagrada Escritura e a Tradição.

A última vez que a tiara foi usada para coroar um papa foi em 1963, depois que Paulo VI foi eleito Pontífice. São João Paulo II, embora nunca tenha usado o triregnum, manteve-o em seu brasão. Papa Bento XVI e Papa Francisco não o empregaram nem mesmo em seu brasão pontifício; eles passaram a usar a mitra como sinal do Bispo de Roma, mas conservaram as chaves, que desde o século V figuram como um atributo de São Pedro na tradição cristã.

Por ter sido no Pontificado de São João Paulo II que a PUC Minas foi elevada à dignidade de Universidade Pontifícia e, por ter sido ele o último dos papas a usar a tiara em seu brasão, decidimos que ela permanecesse em referência à memória histórica do Santo Pontífice e do título concedido à Universidade, mesmo sabendo que os dois últimos pontífices, Bento XVI e Francisco, tenham optado pela mitra e não mais pela tiara no símbolo heráldico de seu pontificado. Em volta do escudo, encontram-se as chaves decussadas (postas na forma da cruz de Santo André). Na história da heráldica eclesiástica, as chaves foram inicialmente de prata e, posteriormente, de ouro. A partir do século XV, elas se tornaram uma de ouro e outra de prata. A chave de ouro simboliza a jurisdição em relação ao Reino dos Céus e a de prata, a autoridade espiritual do Sumo Pontífice sobre o Povo de Deus. As chaves recordam a promessa de Jesus a Pedro: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus, e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,19).

As chaves decussadas estão postas uma de ouro, à direita, e outra, de prata, à esquerda, ambas viradas para baixo, para mostrar que estão na mão do Papa, Vigário de Cristo na terra. A ponta dentada, em forma de cruz latina, recorda a relação do Papa com a cruz de Cristo. As chaves estão ligadas por um cordão, que antes era azul e, desde o século XVI, passou a ser vermelho. O cordão simboliza a união dos dois poderes concedidos a São Pedro de ligar e desligar.



O escudo

O escudo, que compõe o brasão da PUC Minas, em formato clássico ogival, também conhecido como modelo francês, traz consigo uma referência ao brasão da Arquidiocese de Belo Horizonte: o azul, no terço superior, indica o belo horizonte da capital mineira, sede da Arquidiocese; o verde, na parte inferior do escudo, alude aos montes, montanhas e serras, característica das Minas Gerais.

Na parte superior do escudo, encontra-se a estrela da manhã, em tom prateado. A estrela, segundo a antiga tradição heráldica, simboliza a Virgem Maria, mãe de Cristo e da Igreja. Ela é a Estrela matutina que precede, em termos cronológicos, ao Cristo, “Sol nascente que nos veio visitar” (Lc 1,78) e, posta ao centro do terço superior do brasão, é uma alusão à Padroeira do Estado de Minas Gerais, Nossa Senhora da Piedade. Os montes, montanhas e serras, por sua vez, além da referência à topografia mineira, indicam, na heráldica, a grandeza e a sabedoria, valores que a PUC Minas sempre cultivou e fomenta.

Tendo como pano de fundo o verde, encontra-se, no escudo, o pelicano como que perfurando seu peito para alimentar seus filhotes, segundo uma antiga lenda. Ele é símbolo, na heráldica eclesiástica, do Cristo Eucarístico. De Jesus aprendemos, no Quarto Evangelho: “Quem come minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,56). Juntamente com o cordeiro, o pelicano é uma imagem significativa e comovente, porque ela concretiza aos olhos dos fiéis a mensagem de amor de Cristo crucificado que se entrega aos homens, indicando o Sacramento da Eucaristia. Essa imagem representa, desde os primeiros séculos, especialmente desde a Idade Média, a Carne e o Sangue de Cristo oferecidos em sacrifício pela humanidade. O hino Adoro te devote de Santo Tomás de Aquino, em sua penúltima estrofe, refere-se a Jesus como “terno Pelicano”: “Ó terno Pelicano, Senhor Jesus, purifica-me, impuro, com teu sangue, do qual uma única gota pode salvar o mundo inteiro de todo pecado”. Dante Alighieri também utiliza a imagem do pelicano atribuída a Jesus, citando-a em referência ao episódio da Última Ceia em que, no peito de Jesus, repousou a cabeça o Discípulo Amado: “Este é aquele que repousava sobre o peito do nosso Pelicano, e este foi aquele que foi escolhido na cruz para desempenhar o grande ofício” (Paradiso, XXV, 112-114).

A presença do Pelicano no brasão da PUC Minas, portanto, é clara alusão:

1) ao local onde se encontra o campus sede, o bairro Coração Eucarístico;

2) à devoção de Dom Cabral, primeiro Arcebispo de Belo Horizonte, a Jesus Eucarístico e ao seu coração e cujo lema episcopal era Per Eucharistiam vivat in nobis Christus (Pela Eucaristia viva Cristo em nós). Na capela do Palácio Cristo Rei, como parte de sua disposição original, encontra-se a presença do Pelicano na porta do Sacrário, no altar da celebração eucarística e na chave (parte mais alta e central) do arco romano, sob o qual localiza-se o altar;

3) à data de assinatura do Decreto da Sagrada Congregação para a Educação Católica de 5 de junho de 1983. Nessa data, quando a Universidade tornou-se Pontifícia, celebrava-se a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi).

4) ao papel do educador. Compreendida a hermenêutica dos primeiros séculos e as hipóteses renascentistas, chegou-se então a um certo conhecimento: o pelicano, ao alimentar seus filhotes, presumivelmente com pedaços de peixe, mancha seu peito com o sangue desses peixes. A partir dessa mancha, simbolicamente considerada uma autoflagelação da ave, mas que na realidade é a prática de pescar presas para alimentar os filhotes, o pelicano se tornou imagem heráldica de abnegação, dedicação e incondicional compaixão. Essa ave, para nutrir seus filhotes, realiza um processo significativamente simbólico: voa alto, vê os peixes, captura-os, tritura-os, realizando a regurgitação e, somente, quando percebe que os filhotes são capazes de receber o alimento e dele nutrir-se, compartilha do alimento previamente ruminado. Dessa forma, também a educação é um processo em que o educador se coloca ao lado do educando para ajudá-lo, no seu tempo, a nutrir-se do necessário para que cresça e possa desenvolver seu próprio itinerário de formação que haverá de ser ato contínuo e permanente.

O listel

Abaixo do escudo, completando o brasão, encontra-se o listel que, segundo a tradição heráldica, deve ser branco ou prata para nele inscrever-se o mote, comumente registrado em caracteres negros e em latim.

O mote Ex Corde Ecclesiae baseia-se nos seguintes motivos:

1) na Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae sobre as Universidades Católicas assinada por São João Paulo II em 15 de agosto de 1990, recordando que as universidades católicas nascem do coração da Igreja;

2) na compreensão de que a Eucaristia é o coração da vida da Igreja;

3) na memória de que a PUC Minas, por iniciativa de seu primeiro Arcebispo, Dom Antônio dos Santos Cabral, nasceu do coração da Igreja que está em Belo Horizonte e possui seu campus sede no bairro Coração Eucarístico de Jesus. A devoção de Dom Cabral ao Coração Eucarístico de Jesus era tão marcante que até as calçadas que contornam o prédio 7, no jardim central da Universidade, possuem um formato estilizado de coração.

Nesta data em que fazemos memória da tomada de posse de Dom Cabral como primeiro Bispo da Arquidiocese de Belo Horizonte (30/4/1922), elevado mais tarde a seu primeiro Arcebispo (1/2/1924), faço votos de que o novo brasão de nossa amada PUC Minas nos ajude sempre a recordar a nobreza de sua história, marcada pelos símbolos heráldicos nele contidos e que elucidam a relação da Universidade com o primeiro Arcebispo de Belo Horizonte e sua devoção ao Coração Eucarístico de Jesus; com a Igreja, particularmente a que se encontra na Arquidiocese de Belo Horizonte e de cujo coração nasce a Universidade; com a Virgem Maria, Estrela da manhã e da evangelização; com os montes, montanhas e serras das Minas Gerais; com São João Paulo II, em cujo pontificado a Universidade foi elevada à dignidade de Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais; com a identidade e missão da PUC Minas de alimentar, pela educação e pelos valores cristãos que são cotidianamente cultivados no solo da Comunidade Universitária, novos horizontes de vida e de transformação de pessoas e da sociedade.

Prof. Dr. Pe. Luís Henrique Eloy e Silva
Reitor da PUC Minas
30 de abril de 2025

Instituições da Arquidiocese de Belo Horizonte

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