O escudo
O escudo, que compõe o brasão da PUC Minas, em formato clássico ogival, também conhecido como modelo francês, traz consigo uma referência ao brasão da Arquidiocese de Belo Horizonte: o azul, no terço superior, indica o belo horizonte da capital mineira, sede da Arquidiocese; o verde, na parte inferior do escudo, alude aos montes, montanhas e serras, característica das Minas Gerais.
Na parte superior do escudo, encontra-se a estrela da manhã, em tom prateado. A estrela, segundo a antiga tradição heráldica, simboliza a Virgem Maria, mãe de Cristo e da Igreja. Ela é a Estrela matutina que precede, em termos cronológicos, ao Cristo, “Sol nascente que nos veio visitar” (Lc 1,78) e, posta ao centro do terço superior do brasão, é uma alusão à Padroeira do Estado de Minas Gerais, Nossa Senhora da Piedade. Os montes, montanhas e serras, por sua vez, além da referência à topografia mineira, indicam, na heráldica, a grandeza e a sabedoria, valores que a PUC Minas sempre cultivou e fomenta.
Tendo como pano de fundo o verde, encontra-se, no escudo, o pelicano como que perfurando seu peito para alimentar seus filhotes, segundo uma antiga lenda. Ele é símbolo, na heráldica eclesiástica, do Cristo Eucarístico. De Jesus aprendemos, no Quarto Evangelho: “Quem come minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,56). Juntamente com o cordeiro, o pelicano é uma imagem significativa e comovente, porque ela concretiza aos olhos dos fiéis a mensagem de amor de Cristo crucificado que se entrega aos homens, indicando o Sacramento da Eucaristia. Essa imagem representa, desde os primeiros séculos, especialmente desde a Idade Média, a Carne e o Sangue de Cristo oferecidos em sacrifício pela humanidade. O hino
Adoro te devote de Santo Tomás de Aquino, em sua penúltima estrofe, refere-se a Jesus como “terno Pelicano”: “Ó terno Pelicano, Senhor Jesus, purifica-me, impuro, com teu sangue, do qual uma única gota pode salvar o mundo inteiro de todo pecado”. Dante Alighieri também utiliza a imagem do pelicano atribuída a Jesus, citando-a em referência ao episódio da Última Ceia em que, no peito de Jesus, repousou a cabeça o Discípulo Amado: “Este é aquele que repousava sobre o peito do nosso Pelicano, e este foi aquele que foi escolhido na cruz para desempenhar o grande ofício” (Paradiso, XXV, 112-114).
A presença do Pelicano no brasão da PUC Minas, portanto, é clara alusão:
1) ao local onde se encontra o
campus sede, o bairro Coração Eucarístico;
2) à devoção de Dom Cabral, primeiro Arcebispo de Belo Horizonte, a Jesus Eucarístico e ao seu coração e cujo lema episcopal era
Per Eucharistiam vivat in nobis Christus (Pela Eucaristia viva Cristo em nós). Na capela do Palácio Cristo Rei, como parte de sua disposição original, encontra-se a presença do Pelicano na porta do Sacrário, no altar da celebração eucarística e na chave (parte mais alta e central) do arco romano, sob o qual localiza-se o altar;
3) à data de assinatura do Decreto da Sagrada Congregação para a Educação Católica de 5 de junho de 1983. Nessa data, quando a Universidade tornou-se Pontifícia, celebrava-se a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi).
4) ao papel do educador. Compreendida a hermenêutica dos primeiros séculos e as hipóteses renascentistas, chegou-se então a um certo conhecimento: o pelicano, ao alimentar seus filhotes, presumivelmente com pedaços de peixe, mancha seu peito com o sangue desses peixes. A partir dessa mancha, simbolicamente considerada uma autoflagelação da ave, mas que na realidade é a prática de pescar presas para alimentar os filhotes, o pelicano se tornou imagem heráldica de abnegação, dedicação e incondicional compaixão. Essa ave, para nutrir seus filhotes, realiza um processo significativamente simbólico: voa alto, vê os peixes, captura-os, tritura-os, realizando a regurgitação e, somente, quando percebe que os filhotes são capazes de receber o alimento e dele nutrir-se, compartilha do alimento previamente ruminado. Dessa forma, também a educação é um processo em que o educador se coloca ao lado do educando para ajudá-lo, no seu tempo, a nutrir-se do necessário para que cresça e possa desenvolver seu próprio itinerário de formação que haverá de ser ato contínuo e permanente.
O listel
Abaixo do escudo, completando o brasão, encontra-se o listel que, segundo a tradição heráldica, deve ser branco ou prata para nele inscrever-se o mote, comumente registrado em caracteres negros e em latim.
O mote
Ex Corde Ecclesiae baseia-se nos seguintes motivos:
1) na Constituição Apostólica
Ex Corde Ecclesiae sobre as Universidades Católicas assinada por São João Paulo II em 15 de agosto de 1990, recordando que as universidades católicas nascem do coração da Igreja;
2) na compreensão de que a Eucaristia é o coração da vida da Igreja;
3) na memória de que a PUC Minas, por iniciativa de seu primeiro Arcebispo, Dom Antônio dos Santos Cabral, nasceu do coração da Igreja que está em Belo Horizonte e possui seu campus sede no bairro Coração Eucarístico de Jesus. A devoção de Dom Cabral ao Coração Eucarístico de Jesus era tão marcante que até as calçadas que contornam o prédio 7, no jardim central da Universidade, possuem um formato estilizado de coração.
Nesta data em que fazemos memória da tomada de posse de Dom Cabral como primeiro Bispo da Arquidiocese de Belo Horizonte (30/4/1922), elevado mais tarde a seu primeiro Arcebispo (1/2/1924), faço votos de que o novo brasão de nossa amada PUC Minas nos ajude sempre a recordar a nobreza de sua história, marcada pelos símbolos heráldicos nele contidos e que elucidam a relação da Universidade com o primeiro Arcebispo de Belo Horizonte e sua devoção ao Coração Eucarístico de Jesus; com a Igreja, particularmente a que se encontra na Arquidiocese de Belo Horizonte e de cujo coração nasce a Universidade; com a Virgem Maria, Estrela da manhã e da evangelização; com os montes, montanhas e serras das Minas Gerais; com São João Paulo II, em cujo pontificado a Universidade foi elevada à dignidade de Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais; com a identidade e missão da PUC Minas de alimentar, pela educação e pelos valores cristãos que são cotidianamente cultivados no solo da Comunidade Universitária, novos horizontes de vida e de transformação de pessoas e da sociedade.
Prof. Dr. Pe. Luís Henrique Eloy e Silva
Reitor da PUC Minas
30 de abril de 2025