Representando o Governador de Minas Gerais na primeira edição do Congresso Internacional pela Arquitetura Contemporânea, realizado na PUC Minas, o Secretário de Estado de Cultura e Turismo do estado de Minas Gerais, Prof. Dr. Leônidas José de Oliveira, em palestra com o tema Arquitetura contemporânea e o patrimônio da humanidade, afirmou que "além das 31 cidades localizadas no centro do estado, no círculo do ouro, todas as cidades de Minas são históricas".
Referindo-se ao barroco mineiro como "a alma de pedra", do qual o principal expoente é um filho de português e de uma mulher negra escravizada, Leônidas Oliveira argumentou que Aleijadinho representa o mito fundador de Minas Gerais. "Esse barroco tem características muito peculiares, como a convivência entre o barroco e o iluminismo. A razão e as contradições desse período nascendo e crescendo e se transformando em arte, em arquitetura, criando, assim, a nossa forma de ser, ver e existir no mundo", pontuou. Para ele, a arquitetura mineira é híbrida e tem contribuições das raças formadoras da mineiridade, embora as influencias dos povos indígenas e negros escravizados sejam comumente esquecidas. O Secretário reconheceu, no entanto, que a riqueza cultural do estado não se desenvolveu sem o dilaceramento humano.
Influência mineira no modernismo
"As artes, o nacionalismo, essa correlação entre a arquitetura e as artes passam por esse nascedouro de contradições que é Minas Gerais", destacou, ao explicar que, já no século XX, em 1919, o escritor Mário de Andrade vem a Minas para se encontrar com o poeta do simbolismo Alphonsus de Guimaraens (Afonso Henrique da Costa Guimarães), e prolonga sua estadia que seria de um mês para um ano. "Naquele momento que antecede a Semana de Arte de 1922, isso é extremamente importante, porque no Modernismo, que se cercava do Futurismo e deixava de lado as raízes históricas, negando o esse passado, ele se reinventa, também, a partir do encontro com Minas Gerais. A semana de 22, a antropofagia, essa volta para a originalidade do país tem também o nascedouro aqui", defende.
O Secretário, que durante sua fala traçou um panorama histórico da formação arquitetônica e cultural de Minas, declarou ainda que foi a partir de uma visita de Getúlio Vargas ao Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, que foi criado o Serviço Nacional do Patrimônio Histórico (SPHAN). "É muito importante esse paralelo entre uma formação do século XVIII e a formação do patrimônio histórico no século XX, de uma ideia de política nacional de patrimônio histórico. É a partir de Minas Gerais que se tem a originalidade do século XVIII – a mineiridade dando luz ou compreensão à brasilidade – e a ideia da formação de políticas públicas de patrimônio histórico na década de 1930", disse.
Queremos ser mineiros
De acordo com o Secretário, o barroco mineiro cria uma ideia de nacionalismo pela sua grandeza. E, por isso, é parte da originalidade totalmente brasileira, que fez com que o patrimônio histórico nasça aqui, já que o primeiro título de patrimônio cultural da humanidade dado a uma cidade brasileira pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) aconteceu na década de 1980, em Ouro Preto. Segundo ele, em 305 anos de história, que serão comemorados em 2 de dezembro deste ano, Minas Gerais abriga 62% do total do patrimônio histórico protegido do país.
Parafraseando um encontro com representantes da administração da cidade de Poços de Caldas, no qual ouviu que eles também "querem ser mineiros", Leônidas Oliveira chamou a atenção para a falta de reconhecimento das manifestações culturais das cidades que estão nas periferias do estado. "A periferia que não se reconhece nesse barroco porque não o compreende, ou o barroco que não compreende as igrejas ou todas as formas de vida que há na periferia, é preciso agora, em Minas, o encontro entre as histórias e as culturas e um reconhecimento dos nossos povos, que comungam desse mesmo ideal", disse.
O evento é patrocinado pela Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge). Com o tema central Arquitetura do século XX: valorização e conservação do patrimônio arquitetônico em concreto armado, as atividades são gratuitas e prosseguem até esta quarta-feira, 28 de maio.