"A palavra radical, vem de raiz. E nós devemos ser radicais. Ir à raiz para solucionar o problema. O problema das mortes provocadas por esta economia assassina. A economia de mercado, a economia capitalista, o neoliberalismo são assassinos. Então, ser radical significa ir à raiz para fazer duas coisas: extirpar a raiz e matar o sistema que mata antes que ele continue matando pessoas, o meio ambiente: o verde, a água, o ar, a terra. Ou, para deixar a raiz morrer", ressaltou o professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, reitor da PUC Minas e bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, durante a mesa de abertura do 2º Encontro Nacional da Economia de Francisco e Clara na última sexta-feira, 19 de novembro. "Isso se faz acompanhado. Precisamos formar grupos gerando formas diferentes de economia. Ir na raiz, ser radical, significa gerar economias solidárias, economias que circulam. Que integram elementos novos construídos pela cultura e pelo trabalho do povo. Isto não se faz sem dor e precisamos estar unidos na dor", convidou o reitor. Dom Mol também destacou que, no artigo 53 da Evangelii Gaudium, o Papa Francisco deixa clara a expressão "economia que mata" se referindo ao capitalismo e ao neoliberalismo. "Esta economia selvagem, que segrega e divide as pessoas entre os que têm, um grupo pequeno, e entre uma grande maioria dos que não têm".
No combate a esta economia que mata, está importante papel dos movimentos sociais. "Precisamos avançar, fazer com que os movimentos levem o povo a cumprir uma tarefa que só ele pode fazer: ocupar as ruas, lugar do povo de Deus. De uma nação inteira. Para exigir. E este é o tom do diálogo estabelecido, que isto seja transformado", destacou.
Dom Mol sugeriu ainda que a solenidade de abertura do 2º Encontro Brasileiro da Economia de Francisco e Clara fosse dedicada a Zumbi dos Palmares. "Poucos sabem, mas Zumbi dos Palmares também era Francisco. E ele precisa ressuscitar dentro de cada um de nós. Contra todo tipo de racismo e contra todo tipo de exclusão, todo tipo de segregação. Humana, racial e assim por diante".
Para Leonora Mol, coordenadora da Rede Brasileira de Bancos Comunitários, desde o 1º Encontro, está em construção a união destas entidades que buscam a humanização desta economia. "Estas entidades vivem em uma luta constante para extirpar este sistema cruel que vem desgastando todos os nossos povos: os que estão na periferia, nas regiões ribeirinhas, nos pequenos empreendimentos econômicos solidários, os quilombolas, os sem-terra, indígenas, sem-teto. Por trás de todo este povo temos estas entidades numa tentativa de buscar coletivamente coisas que possam ser feitas de forma conjunta", destacou.
Para Eduardo Brasileiro, membro do Grupo de Reflexão e Trabalho para a Economia de Francisco e Clara na PUC Minas e representante da Articulação Brasileira da Economia de Francisco e Clara, o papel da articulação entre entidades é o de romper muros, romper a lógica da morte. "Há dois anos dizíamos que a EFC era uma provocação, uma inspiração. Um espírito. Hoje eu sei que ela é uma proposta de transição socioecológica. Algo que a gente ainda não vive. Uma busca incessante daquele ser humano integral. No encontro perfeito com a mãe terra. Com as espiritualidades, com os povos, com os saberes. E a gente sintetiza isso em resistência coletiva e em projetos populares de Brasil", refletiu Eduardo. "Este encontro será para formularmos experiências, reunirmos nos territórios, e para que em cada região deste país tenha gente dizendo: a EFC vive porque o povo resiste e organiza a esperança. É um tempo de globalizarmos a luta e também a esperança", finalizou.
Durante a solenidade de abertura, que está disponível no YouTube, foi exibido vídeo produzido pela produtora da Secretaria de Comunicação da PUC Minas, E-motion Audiovisual. O vídeo é uma retrospectiva destes dois anos de trabalho da Articulação Brasileira da Economia de Francisco e Clara.
No sábado, aconteceu um encontro por grandes regiões, além de uma feira de boas práticas em que foram apresentadas diversas experiências como os Bancos Comunitários (Rede Brasileira de Bancos Comunitários) e Moedas Sociais e Agroecologia e Soberania Alimentar (ANA – economia agrourbana).
O evento resultou em uma carta-compromisso firmada entre as entidades nacionais participantes. Confira a
CARTA COMPROMISSO_II_EncontroNacionalABEFC.pdf na íntegra.
O evento foi realizado pela Articulação Brasileira para a Economia de Francisco e Clara (ABEFC) em parceria com o Grupo de Trabalho e Reflexão para a Economia de Francisco e Clara da PUC Minas.
O que é a Economia de Francisco e Clara
Em maio de 2019, em carta endereçada aos jovens, o Papa Francisco destacou a urgência de "uma economia diferente, que faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da criação e não a depreda", simbolicamente chamada de Economia de Francisco. No Brasil, a proposta ganhou corpo a partir de diversas frentes de ação em todo o país por uma economia que venha fortalecer as experiências de colaboração, cooperativismo, renda e finanças solidárias a fim de ser para todos.
Além disso, Clara, companheira de São Francisco de Assis, foi incorporada ao nome original, já que a proposta brasileira defende uma economia que o masculino e o feminino caminhem lado a lado, uma vez que, para os participantes da ABEFC, a lógica patriarcal também reduziu a economia unicamente a essa dimensão material e produtivista.
Em novembro de 2019 aconteceu o primeiro grande encontro mundial com a participação de dois mil jovens de 150 países diferentes. O Brasil foi o segundo país com o maior número de jovens selecionados com 200 participantes.
Sobre o Grupo de Trabalho e Reflexão da PUC Minas
Em junho de 2021, a Reitoria da PUC Minas criou o primeiro Grupo de Reflexão e Trabalho (GRT) para a Economia de Francisco e Clara dentro de uma universidade. O grupo vem responder à perspectiva daquilo que é uma das grandes linhas de reflexão do pontificado do Papa Francisco. Ele é criado com vínculo com a CNBB, que tem como compromisso colocar em pauta essa reflexão que precisa ser feita e articulada em prol desta nova economia e em diálogo com o que se pensa aqui no Brasil.