Pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Geografia, em parceria com membros do Espeleogrupo Pains (EPA), encontraram, em 2022, os fósseis da espécie Catonyx aff. cuvieri de preguiça-gigante da família Scelidotheriinae na cidade de Pains, no centro-oeste mineiro, durante as atividades de campo da Escola Brasileira de Espeleologia (EBRE) da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE), na Gruta João Lemos. A descoberta é o primeiro registro fóssil da espécie na região Cárstica do município.
Os fósseis, da espécie Catonyx aff. cuvieri, descrita pelo naturalista dinamarquês Peter Lund (1839), foram encontrados permineralizados, ou seja, a estrutura biomineral dos ossos foi substituída pela calcita mineral do meio circundante, através da percolação da água rica em carbonato de cálcio que adentrou nos espaços intersticiais ósseos. Aproximadamente 25% da ossada pôde ser resgatada, incluindo o úmero esquerdo, ossos carpais, falanges, costelas, crânio fragmentado, vertebras esternais e osso palmar. O animal viveu no Pleistoceno e pertenceu a megafauna extinta ao final da última era glacial que durou 2,5 milhões de anos.
Segundo o Prof. Dr. Luiz Eduardo Panisset Travassos, docente do Departamento de Geografia da PUC Minas, não foi possível realizar a sexagem do animal pois não foi encontrada a bacia pélvica do fóssil. "No entanto, podemos dizer que o animal atingiu a fase adulta pelas extremidades dos ossos longos, as epífises, estarem fundidas às diáfises, ou seja, corpo ósseo", afirma o pesquisador que também é o único membro latino-americano do Inštitut za raziskovanje krasa (Karst Research Institute), importante centro de pesquisas internacional dedicado ao estudo da geografia, hidrologia, geologia, morfologia, ecologia e microbiologia da paisagem cárstica.
A expedição de resgate do fóssil teve como objetivo identificar na região aspectos da paisagem que favorecem a formação de depósitos sedimentares nesse tipo de paisagem, o Carste.
De acordo com o pesquisador Bruno Kraemer, que participou da atividade e é orientando do professor Panisset no Programa de Pós-graduação em Geografia da PUC Minas, o animal apresentava uma estrutura aproximada de um novilho de 150 quilos, corpo alongado, crânio de aspecto tubular, membros atarracados e garras poderosas. "A locomoção desse animal era peculiar e denominada de pedolateral, ou seja, pisava na face externa das patas. Além disso, seriam capazes de construir tocas no solo, para procriarem e se esconderem", explica Kraemer.
O material será triado e preparado no laboratório do Programa de Pós-graduação em Geografia – Tratamento da Informação Espacial da PUC Minas, Campus Coração Eucarístico, e será destinado à Coleção Paleontológica do Museu de Ciências Naturais da Universidade. Considerada a maior coleção de mamíferos fósseis no Brasil e a segunda maior da América Latina, onde já se encontra em exposição, por exemplo, o crânio de um mastodonte encontrado na Loca do Angá em atividade coordenada pelo Prof. Cástor Cartelle entre 1998 e 1999, e que teria coabitado a mesma região da preguiça-gigante.