Para mitigar a chance de contaminação por coronavírus, a higienização e desinfecção de mãos e de ambientes se tornaram hábitos necessários. Sabão, álcool 70% e desinfetante se tornaram elementos fundamentais e de uso diário. Entretanto, é preciso cuidado ao utilizar essas substâncias químicas. Pesquisa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aponta que quase 1,5 mil pessoas se intoxicaram com produtos de limpeza nos últimos cinco meses no Brasil. Esse número é 23,3% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado, o que levou a Agência a criar uma Nota Técnica que alerta sobre o crescimento de casos de intoxicação.
O professor de Química Orgânica Guilherme Pereira alerta que a exposição prolongada a qualquer reagente químico pode causar lesões e/ou alergias, por isso, é recomendável a utilização de Equipamento de Proteção Individual (EPI), como luvas. Também é importante observar se o ambiente tem ventilação adequada. Mas, qual o produto ideal para cada ambiente? O professor alerta que é preciso analisar o que será limpo. "As formulações alcóolicas podem ser empregadas nos equipamentos eletrônicos e superfícies também, mas os desinfetantes comerciais são eficientes para limpeza de áreas comuns", explica.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o álcool 70% como concentração ideal para a proteção contra o coronavírus. Mas, por que essa é a concentração ideal? "Quando se refere a 70%, significa que o álcool foi misturado com 30% de água. A mistura com água garante que o composto fique o tempo necessário em contato com a estrutura do vírus e/ou bactéria para realizar sua ação germicida", explica Guilherme. Como uma das medidas emergenciais para conter a Covid-19, a Anvisa autorizou a comercialização do álcool líquido 70% no país. Desde 2002, era proibida a venda do álcool líquido com gradação maior que 54% para evitar acidentes como queimaduras. A limitação não se aplica ao gel. O professor ressalta, porém, que o produto nesta forma é igualmente inflamável e, por isso, perigoso. "A formulação de álcool em gel usa um espessante na sua composição, mas o material continua inflamável e deve-se ter os mesmos cuidados que com o álcool líquido", alerta.
Essa dica é importante para evitar o que ficou conhecido como "fogo invisível", causado pelo álcool em gel, que tem provocado diversos casos de queimaduras. De acordo com o professor, relatos indicam um tempo de absorção de 20 minutos. No entanto, esse tempo pode ser variável. "O tempo necessário é aquele que todo o material tenha sido evaporado da parte aplicada e esperar mais alguns minutos antes de manusear qualquer "fonte de ignição", opina, ao lembrar que para a higienização da pele o álcool só é recomendado na ausência de água e sabão.
Para a desinfecção de ambientes, recomenda-se a utilização da água sanitária, solução aquosa de um sal chamado de hipoclorito de sódio. No entanto, o professor alerta que o produto não deve ser usado puro, e sim diluído em uma proporção de ¼ de produto para ¾ de água. "A diluição deste desinfetante com água potável garante melhores resultados como germicida, pois a diluição leva a formação do ácido hipocloroso, que atua tanto na estrutura viral como nas membranas de bactérias. O professor também lista detergentes, sabões e desinfetantes quaternário de amônio como germicidas eficientes e faz um alerta: misturas caseiras nunca são aconselhadas. "Pode ocorrer desde inativação do produto de limpeza utilizado até casos mais graves, como a formação de reações químicas que podem levar à formação de gases tóxicos", explica.
O que fazer em casos de intoxicação ou alergia?
A professora do Departamento de Enfermagem da PUC Minas e enfermeira do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da Prefeitura de Belo Horizonte, Gisele Fráguas, explica que as intoxicações ou alergias são manifestações clínicas de um efeito nocivo da interação entre uma substância química com o corpo humano. Nesses casos, é importante identificar o agente tóxico, o horário da exposição a esse agente, o local de exposição e o contexto no qual a intoxicação ocorreu. "Os primeiros cuidados podem ser realizados no local onde a intoxicação aconteceu, porém é importante que essa pessoa seja levada a um serviço de pronto atendimento o mais rápido possível, juntamente com o frasco do produto causador da intoxicação. Caso essa pessoa esteja inconsciente, o Samu deve ser acionado por meio do número 192", alerta.
Nos casos leves, é importante iniciar rapidamente o processo de descontaminação, de acordo com o local afetado:
Intoxicação por Inalação: lavar o nariz abundantemente com soro fisiológico.
Intoxicação Ocular: lavar os olhos abundantemente com soro fisiológico. Essa pessoa deve ser avaliada por um Oftamologista.
Intoxicação Cutâneo Mucosa: orientar a pessoa a retirar a roupa e tomar banho. Caso a área exposta seja pequena, lavar bem o local com água corrente.
A professora alerta que em todos os casos a pessoa deve ser avaliada por um profissional médico ou de saúde treinado e que em Belo Horizonte o Hospital de Pronto Socorro João XXIII é referência estadual para todos os tipos de intoxicação. "É importante destacar que a embalagem do produto químico deve ser levada, junto com a pessoa, ao serviço de saúde para que sua composição seja avaliada e o antídoto administrado corretamente", orienta.
O que fazer em casos de queimaduras?
Gisele Fráguas destaca que para a higienização em relação ao coronavírus a lavagem das mãos com água e sabão é tão eficiente quanto a utilização do álcool em gel, que deve ser utilizado somente nos locais em que não seja possível lavar as mãos e que, diante de qualquer sintoma de irritação na pele, como vermelhidão, o seu uso deve ser interrompido. Diante de queimaduras envolvendo seu uso, a chama ou fogo deverá ser apagado envolvendo a parte do corpo queimada em um pano seco. Após o fim da chama, o local deverá ser resfriado com água corrente e a pessoa encaminhada a um serviço de pronto atendimento. "Não utilize qualquer produto (creme dental, óleo, pomadas, açúcar, etc.) no local queimado. Basta mantê-lo resfriado ou coberto com um pano úmido e limpo até o atendimento", reforça.
A professora também ressalta que o álcool em gel deve ser guardado em locais seguros e de difícil acesso de crianças devido ao risco de intoxicação ocular, ingestão ou queimaduras. Além disso, seus frascos devem ser mantidos longe de fontes de calor (cozinhas) devido ao risco de explosões. Por fim, ela orienta: "Ao utilizar o álcool em gel nas mãos não manipule isqueiros, fósforos, evite o fogo ou instrumentos que produzam faíscas, pois sua chama é praticamente invisível e a pessoa só percebe a queimadura no momento que está ocorrendo".