Dizem que o corpo humano é uma máquina perfeita. Como em um sistema de engrenagens, a ação conjunta de seus órgãos e sistemas realizam funções essenciais para a manutenção da vida. Mas, assim como qualquer máquina necessita de revisões periódicas, o corpo humano também requer check-up. Daí a importância da Medicina Preventiva, especialidade que tem o objetivo de evitar o desenvolvimento de doenças, bem como reduzir os impactos de eventuais problemas na saúde e oferecer uma melhor qualidade de vida àqueles que estão realizando algum tipo de recurso terapêutico. Em outras palavras, diagnosticar precocemente alguma "falha no maquinário" permite que o tratamento em fases iniciais aumente consideravelmente as chances de cura e qualidade de vida.
É justamente neste aspecto que os homens pecam, sobretudo neste período pandêmico. Pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), que entrevistou 500 homens em 22 estados federativos, mostra que 55% dos homens acima de 40 anos deixaram de fazer alguma consulta ou tratamento médico no último ano. Dado que preocupa já que, historicamente, o público masculino vai menos ao médico que o feminino, como indica a última pesquisa do Programa Nacional de Saúde, cuja proporção de consultas de mulheres (82,3%) superou em muito a dos homens (69,4%). Entretanto, independentemente de contexto histórico, gênero ou qualquer outro fator ou circunstância, existem coisas que não podem ser adiadas. E o cuidado com a saúde é uma delas.
O câncer de próstata é o tipo mais comum entre a população masculina, representando 29% dos diagnósticos da doença no país e, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), 65.840 novos casos no Brasil são estimados para cada ano do triênio 2020-2022. Esse valor corresponde a um risco estimado de 62,95 casos novos a cada 100 mil homens. Os números assustam, mas, a boa notícia é que, quando diagnosticado em fases iniciais, a taxa de cura é superior a 90%.
Por isso, os laços azuis e ilustrações de bigode que estampam o mês de novembro são tão importantes. Anualmente, 21 países preparam oficialmente campanhas sobre prevenção e diagnóstico precoce do câncer de próstata, além de lembrar aos homens que cuidar da saúde é fundamental. No Brasil, o Novembro Azul foi criado pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, com o intuito de promover uma mudança de paradigmas em relação à ida do homem ao serviço de saúde. O urologista Valter Vilela da Costa, professor do Curso de Medicina da PUC Minas, pontua que apesar da campanha ter começado no Brasil com uma abordagem centrada na questão do câncer de próstata, é importante chamar a atenção sobre os cuidados com a saúde masculina de modo integral. "Os homens não têm o costume de ir periodicamente ao médico, a não ser que tenham algum problema. E o Novembro Azul é o momento de tentar trazer esse público para o consultório e alertá-lo sobre outras doenças, pensando no bem-estar geral, não somente no aspecto urológico", afirma, ao pontuar que a Medicina Preventiva é essencial para a manutenção da saúde como um todo.
Grande parte da resistência do público masculino vem do tabu em relação ao exame de toque retal, utilizado para avaliar as condições físicas da próstata, já que a glândula se localiza na frente do reto e abaixo da bexiga. O professor alerta, no entanto, que não há motivo para temer. "É um exame rápido, indolor, sem custos do ponto de vista de saúde pública e que pode auxiliar no diagnóstico do câncer de próstata na fase precoce", afirma. Essa avaliação clínica é, geralmente, associada ao PSA, da sigla Prostate-Specific Antigens, que significa Antígeno Prostático Específico, exame de sangue que detecta um antígeno existente na próstata. "As avaliações associadas melhoram a chance do diagnóstico", pontua o urologista, que orienta que as avaliações são recomendadas a partir dos 50 anos. São considerados fatores de risco incidência da doença em familiares de primeiro grau – pais, irmãos e tios –, obesidade e afrodescendência. Nestes casos, a avaliação deve ser antecipada em cinco anos, começando aos 45.
Diferentemente do câncer de pulmão, por exemplo, no qual o tabagismo é um fator comportamental que aumenta a probabilidade de incidência da doença, Valter Vilela destaca que, no caso do câncer de próstata, não há um fator causal claro que desencadeie o desequilíbrio na proliferação de células e provoque a neoplasia. "Não há nenhuma medida preventiva clara que se possa tomar para garantir que as chances de ter câncer de próstata sejam menores. Existem fatores genéticos que podem estar relacionados à maior chance de desenvolvê-lo e de desenvolver tipos mais agressivos. Então, não tem nenhum hábito alimentar ou comportamento que possa aumentar as chances de surgir o câncer de próstata. Como não existe nenhum fator preventivo claro, aí que o diagnóstico precoce ganha mais importância", argumenta.
Outro fator que também evidencia a importância do diagnóstico precoce é o fato de que, em estágios iniciais, o câncer de próstata é uma doença silenciosa. "Os sinais aparecem somente nas fases mais avançadas. E esses sintomas são sangue na urina, dificuldade para urinar, dor na região pélvica, retenção urinária e, em caso de metástases, que é a formação de uma nova lesão tumoral a partir de outra, dores ósseas e fraturas".
O professor destaca que em caso de confirmação do diagnóstico, o tratamento é variável. "Vai depender da agressividade do tumor, da idade de cada paciente, do seu histórico de doenças prévias, de qual é o desejo desse paciente. Tudo isso tem que ser levado em consideração para traçar um plano terapêutico", pontua o urologista, que explica que, de forma geral, o tratamento pode ser feito por prostatectomia, que é a cirurgia de retirada de próstata; radioterapia, que utiliza a fonte radioterápica para ionizar a região e, assim, tratar o tumor; além dos tratamentos adjuvantes, como hormonioterapia e quimioterapia.
Se não há como evitar, descobrir o quanto antes é a melhor forma de garantir uma vida saudável. Por isso, não deixe os cuidados com a sua saúde para depois. A prevenção também é uma urgência.