A interrupção das atividades cotidianas pela pandemia tem provocado uma segunda pandemia: de sedentarismo. Na edição anterior falamos sobre a importância de se manter ativo para a saúde do corpo e para a mente. E isso vale também para as crianças. Segundo a Organização Mundial da Saúde 78% das crianças e 84% dos adolescentes brasileiros não fazem o mínimo de atividade física recomendada por dia. O tempo diário indicado pela OMS é de uma hora de atividades, mas com a quarentena, a movimentação de muitas crianças se restringiu a trocar de cômodo dentro de casa.
A mudança das aulas presenciais para o home school e a interrupção de atividades físicas e de recreação têm provocado um efeito colateral: o aumento do sedentarismo e, consequentemente, da obesidade infantil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, uma em cada três crianças entre cinco e nove anos está acima do peso. De acordo com o Ministério da Saúde, nessa faixa etária, 12,9% são obesos.
A nutricionista Nádia Mendes alerta que uma criança obesa tem maiores chances de se tornar um adulto obeso, e que essa doença multifatorial pode acarretar fatores de risco, como dislipidemia (elevação do colesterol), a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), o Diabete Mellitus tipo 2 (DM2), entre outras. "Além de problemas físicos, relacionados à obesidade, as crianças estão mais propensas a problemas associados à baixa autoestima e depressão", alerta a técnica do Laboratório de Nutrição da Unidade Barreiro.
Apesar dos desafios impostos pelo afastamento social, Nádia reforça a importância de que os pais e responsáveis incentivem as crianças a praticarem brincadeiras que requeiram movimentação, como bola ou corda, por exemplo. "Estimule brincadeiras em que a criança não fique apenas sentada, como videogame, mas correndo, pulando e se movimentando para que possa exercitar todo o seu corpo, aprimorar a coordenação motora, trabalhar a respiração, o sistema cardiovascular e fortalecer os músculos", orienta Nádia, que também sugere que as crianças sejam incluídas nas atividades domésticas como estratégia para uma rotina mais ativa. "Os horários destinados para limpar, organizar e cozinhar, por exemplo, podem virar atividades de descontração e união".
Além de movimentar o corpo, é fundamental cuidar da alimentação. A nutricionista explica que os hábitos alimentares das crianças são formados na gestação e se estendem nos primeiros anos de vida. Para evitar que se tornem adultos com excesso de peso, os pais devem ser o exemplo e contribuir para que seus filhos tenham uma alimentação saudável. "Não se deve oferecer açúcar e alimentos ultraprocessados (iogurte com açúcar, biscoitos recheados, salgadinhos e macarrão instantâneo, por exemplo) para crianças menores de dois anos de idade e seu consumo deve ser evitado após essa faixa etária. Também devem ser evitados suco de frutas industrializadas, refrigerantes e adoçantes artificiais", orienta Nádia. Nesta faixa etária, a nutricionista reforça que a alimentação deve ser baseada em alimentos in natura e minimamente processados, como frutas, verduras, legumes, ovos, carnes, peixes, sementes e grãos.
Nutrição saudável
Confira outras dicas da nutricionista que podem ajudar os pais e responsáveis a garantirem uma dieta balanceada e proporcionar saúde aos pequenos:
- Estimule atenção plena durante as refeições. Evite que a criança fique distraída, deixe longe os televisores e eletrônicos nesse momento;
- Faça as refeições com as crianças. Assim, elas terão a oportunidade de ver os familiares comendo alimentos saudáveis;
- Evite comprar alimentos industrializados, pois são ricos em açúcar e/ou gorduras. Por isso, é recomendado evitar biscoitos, bolos e refeições pré-preparadas;
- Ofereça uma grande variedade de frutas e legumes;
- Realize as preparações dos alimentos no vapor ou grelhados, evitando as frituras e alimentos com molhos;
- Não ofereça à criança refrigerantes, dando preferência a água e sucos de fruta naturais e sem açúcar.