O ditado diz ano novo, vida nova. A rigor, nada muda. A passagem do dia 31 de dezembro para o dia 1º de janeiro é exatamente igual a todas as 365 viradas do calendário. Mas, a mudança de um ano para o outro traz intrínseca a ideia de reflexão e renovação. Não há um padrão linear ou uma fórmula mágica, mas percebe-se que, geralmente, as pessoas se sentem motivadas e dispostas para mudanças de hábitos, atitudes e comportamentos. Algumas pessoas planejam, outras projetam expectativas e outras tantas se lançam a novos desafios.
Isso é provocado pela divisão do tempo em ciclos, e essa ideia de fins e recomeços é benéfica à saúde mental. É o que explica a professora Danúbia Zanetti, da Faculdade de Psicologia da PUC Minas. "No decorrer do ano finalizamos etapas, projetos e ciclos. Talvez vivenciamos isso com mais intensidade no Ano Novo, devido à retrospectiva que realizamos e por acreditarmos que a vinda de um novo ano traz mudanças e novas perspectivas em diferentes áreas da nossa vida. É muito importante esse movimento", afirma.
Esse movimento cíclico acompanha o indivíduo ao longo da vida e as duas fases são igualmente importantes, afirma a professora. "Alguns términos são mais complexos que outros, depende dos fatores envolvidos: financeiros, sociais, emocionais, afetivos. Os inícios também. Tem momentos que, após uma reflexão profunda, entendemos que temos que refazer partes ou escolhermos caminhos diferentes para a concretização de algo. Nunca é tarde para recomeçar", pontua.
A arte do desapego
É quase um ritual padrão deste período separar roupas, calçados, livros e outros objetos que não lhes servem mais e doá-los a quem ainda pode usufruir deles. E essa "limpa" nos armários – e, por que não, na mente e no coração – é, justamente, um bom exemplo deste processo circular. "É um elemento simbólico, que marca um recomeço. De renovação do visual ou do estilo de vida, por exemplo. É, também, um momento que aflora o caráter de solidariedade e de partilha com o próximo", observa Danúbia. Ela ainda destaca que esta época intensifica os sentimentos de união, de esperança e disposição da construção de um mundo melhor, mais justo e mais equânime. "Vivemos com mais intensidade o amor ao próximo", sintetiza.
A hora de fazer planos
Outro hábito comum desta época é aquela famosa lista de metas. Danúbia pondera que para algumas pessoas essa prática pode funcionar como um fator motivacional para mudanças. Para outras pessoas, há risco de surtir o efeito contrário e virar uma forma de cobrança para cumprir todos os objetivos, o que pode acarretar em frustração. Independentemente do método de planejamento, seja lista de metas ou outra estratégia, a psicóloga afirma que algumas perguntas reflexivas podem auxiliar nesse processo, tais como: Como foi o meu ano – em termos acadêmicos, profissionais, sociais, afetivos, dentre outros âmbitos?; O que eu gostaria de manter?; O que eu gostaria de modificar ou fazer diferente?; O que eu gostaria de acrescentar na minha vida?. "Lembrando que essas perguntas são guias e não um roteiro a ser seguido como uma fórmula mágica. A psicoterapia auxilia nesse processo de reflexão, de autoconhecimento e encontro com as nossas possibilidades individuais e sociais de janeiro a janeiro", afirma.
Momento atípico
Se esse período já provoca reflexões e mudanças normalmente, isso se intensifica, e muito, em um contexto pandêmico. Após tantas variações entre velho e novo normal, isolamento social e ressocialização, vida virtual e presencial, uma habilidade que todos tiveram que adquirir, em maior ou menor grau, e sem possibilidade de escolha, foi a capacidade de adaptação. Mas, como passar por tantas mudanças de forma orgânica e sem tanto estresse? "Novamente não há uma fórmula mágica ou exata. Precisamos de flexibilidade, leveza e segurança sanitária. É importante que todos estejam vacinados e que cuidemos uns dos outros, usando máscara, álcool em gel e outras medidas de proteção individuais e coletivas. Que estejamos abertos para as novas aprendizagens e experiências. O reencontro traz também a possibilidade de um novo ciclo. Sejamos flexíveis e zelosos pelo bem-estar de todos", aconselha.