A estratégia de controlar a transmissão do novo coronavírus por meio do isolamento social obrigou milhares de pessoas a ficarem em casa em período integral. Isso afetou os relacionamentos sociais em maneiras opostas: ao mesmo tempo em que potencializa a convivência entre pessoas que moram na mesma residência, separa fisicamente as demais. Seja pelo excesso, seja pela falta, todas as relações foram, de alguma forma, afetadas pela pandemia e as pessoas foram obrigadas a descobrir novas formas de conviver. E a convivência é uma das maiores necessidades do ser humano, como observa a professora Márcia Mansur, do Curso de Psicologia. "Somos seres relacionais, precisamos uns dos outros para viver. São as relações sociais que contribuem para a construção da nossa identidade, para a nossa vida, para os nossos projetos. Conviver, ter vínculos, se sentir pertencente, se sentir incluído a um grupo, isso é muito importante", afirma a psicóloga.
Como, então, fazer com que essas relações não sejam desgastadas neste momento de vulnerabilidade, em que as pessoas estão com as emoções afloradas devido aos altos níveis de ansiedade e estresse impostos pela pandemia e suas consequências? Mais do que nunca, é hora de exercitar o respeito, a tolerância e a empatia. "Nós precisamos aprender a lidar com as diferenças. Para isso, é necessário estarmos abertos. Precisamos repensar e avaliar nossas ações diariamente", destaca a professora, que considera o direito à privacidade um fator fundamental para uma convivência harmônica. "Ter um espaço para exercer a individualidade, respeitando a singularidade de cada um dentro desse ambiente, é muito importante", ressalta.
Mas, o mesmo cenário que pode favorecer conflitos, pode também reforçar laços. Para a professora Márcia, este momento é, também, uma oportunidade de conhecer melhor as pessoas com quem convivemos todos os dias. "Antes dessa pandemia não tínhamos muito tempo e nem nos atentávamos para as diferenças e para as convivências familiares. Agora estamos tendo oportunidade, até de uma forma imposta, de conhecer melhor essas pessoas que estão ao nosso redor. Podemos aproveitar melhor esse tempo olhando mais para as pessoas, tentando enxergar potencialidades que não percebíamos durante o dia a dia, na correria e nas tarefas diárias", observa Márcia Mansur. "Então, se estivermos abertos e com o olhar um pouco mais atento, poderemos perceber coisas que não percebíamos antes nas relações familiares", completa a professora, que sugere atividades em conjunto, como ver fotos da família e cozinhar, entre outras, para proporcionar esses momentos de troca.
Relações reais, ainda que virtuais
Ao mesmo tempo que o isolamento social provocou um excesso de convivência entre pessoas que habitam a mesma residência, impôs a distância a parentes, amigos e colegas de trabalho. Para manter esses vínculos, a internet se tornou a maior aliada das relações na era do "novo normal". "Mesmo no período pós-pandemia, os meios virtuais vão estar, definitivamente, mais presentes na nossa vida. E precisaremos buscar outras formas de relações e se apropriar dessas formas virtuais", alerta Márcia Mansur.
Para isso, valem reuniões familiares, confraternizações, atividades simultâneas, como ouvir uma música ou disputar um jogo, tudo pela tela do computador ou do celular. "O mais importante é que a gente consiga se afetar. Afetar as pessoas e sermos afetados por elas. Essas interações virtuais são formas de fortalecer esses afetos e essas relações, mesmo que à distância", explica a professora e psicóloga, que acredita que esse momento pelo qual a sociedade passa é desafiador, mas também proporciona crescimento. "Exige criatividade, flexibilidade, positividade. Eu acho que esse momento tão desafiador, mas que também aprendizado", afirma.