É necessário que a universidade, enquanto instituição, retome-se como formadora do espírito humano, de um ser humano completo, formadora mais do que um profissional, um ser humano dotado de sensibilidade, de amor à cultura, de formação de caráter, de formação de uma pessoa no seu sentido autônomo. "O modelo a ser evocado, muito importante, não é só momento de formação, é formar mais do que um profissional, é dotar o ser humano de cultura, pessoa autônoma e articulação de sua vida com a sociedade, situando-se no tempo da história, um modelo de combate ao tecnicismo". Essa foi a tônica da palestra sobre A Construção de um Modelo de Ensino Superior em Tempos de Globalização, ministrada pelo professor Carlos Benedito Martins, titular do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) e presidente da Sociedade Brasileira de Sociologia, durante a Semana de Avaliação dos Professores, na tarde desta segunda-feira, 24 de junho, no auditório 1 do Campus Coração Eucarístico.

O professor vê um recuo do papel da dimensão crítica da universidade, como centro de reflexão e de questões centrais da sociedade. "Será que a universidade tem que formar para o empreguicismo?", questionou a plateia, lembrando que Max Weber já dizia que especialistas não teriam ódio e nem amor, numa sociedade cada vez mais racionalizada. A palestra do professor, que tem doutorado sobre ensino superior privado no Brasil, foi uma promoção da Pró-Reitoria de Pesquisa e de Pós-graduação (PROPPg) da PUC Minas. O professor Carlos Benedito disse que reconhece profundamente o valor do trabalho desenvolvido pelas Pontifícias Universidades Católicas (PUCs) no Brasil.

Participaram da mesa os professores da PUC Minas Candice Vidal e Souza, do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais, e Carlos Roberto Jamil Cury, do Programa de Pós-graduação em Educação. De acordo com a professora Candice, o evento teve como objetivo gerar ação reflexiva para as práticas docentes de ensino e pesquisa, considerado o professor como agente principal do processo educacional.

Para o professor Carlos Benedito, apesar de o economicismo permear a universidade no âmbito global, cuja formação transnacional é uma nova concepção de ensino superior, com um discurso de eficiência, competitividade, a formação humanista tem importância sobremaneira para a formação do indivíduo, incluindo o Brasil. Pontuou que a globalização já foi muito estudada nos âmbitos político, social e econômico, mas pouca estudada ainda como vem afetando o ensino superior e como o ensino superior vem repetindo esse processo.

O professor fez um histórico do nascimento da universidade no mundo, em cujo ano de 1500 havia apenas 50 universidades, e o Brasil tendo sido um dos últimos países a ter ensino superior. Citou como a criação da Universidade de Berlim, em 1810, representou uma reação cultural e política e sedimentou uma elite e um sentimento nacionalistas.

Foram nos anos 1990 que as universidades começaram a englobar novos públicos, o que não significa que houve democratização do acesso ao ensino superior, mesmo com a expansão nos anos 1960 nos EUA e nos 1970 no Brasil, disse o professor Carlos Benedito. As universidades no mundo começaram o protagonismo questionando seu próprio caráter elitista, depois de a universidade ter assumido um papel fundamental para o capitalismo e a reprodução dele, observou. Segundo ele, o sistema transnacional de ensino superior tem se presenciado desde os anos 1970, no qual o ensino superior não se configura mais nos limites de seu território, e as atividades de ensino nos países têm tomado um papel secundário. O palestrante exemplificou que mais de 200 universidades em todo o mundo possuem atualmente campus operando fora de seu país, obedecendo à lógica comercial, número sem se levar em conta a educação on-line.

O professor Carlos Benedito destacou que o ensino superior em todo o mundo se expandiu enormemente e que a mobilidade acadêmica e transnacional sempre existiu, sendo atualmente 12 milhões de universitários estudando em outros países. Avaliações, a partir de rankings, levam em conta o número de estudantes estrangeiros nas instituições, como o Time Higher Education e o Academic Ranking of World Universities (Shangai University), este no qual constam como as melhores 15 norte-americanas, suíças e inglesas. Esses rankings, disse, acabam por balizar a vida nas universidades, já que têm grande visibilidade, e os estudantes e professores passam a orientar sua vida acadêmica a partir deles, fazendo com que universidades compitam entre si, assim como seus departamentos, cada um cada vez mais, de modo geral, preocupados com a carreira individual do que com a respectiva instituição, pontuou. Uma concepção de universidade empresarial na qual as discussões têm que ser centralizadas e na qual a instituição teria que ser gerida por dentro.  

Citando Humboldt, Habermas e Bauman, disse que a universidade constitui um espaço sui generis para a produção do saber. Ao nomear outro autor da área, disse que a multiuniversidade, que forma para o mercado de trabalho e não tem somente funções de ensino e pesquisa, é a morte da universidade concebida por Humboldt, que defendia barreiras para que a instituição mantivesse seu conhecimento. 

Assessoria de Imprensa PUC Minas