17/09/2024 10:00
Guilherme Simões
Para a ministra Edilene Lôbo, o modelo de democracia precisa ser aperfeiçoado para comportar toda a diversidade e pluralidade
Primeira magistrada negra da história do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a Profa. Dra. Edilene Lôbo abriu o segundo momento de palestras do evento Eleições 2024: Mídia e Direito. "Quando falamos em democracia e recebemos hoje uma aula magnifica da Ministra Cármen Lúcia, compreendemos da nossa sabença que a democracia é um modelo inacabado e em crise", disse a Ministra do TSE. Em sua palestra, intitulada Representatividade e minorias nas eleições, ela apontou que o modelo de democracia precisa ser aperfeiçoado para comportar toda a diversidade e pluralidade. "Nós precisamos reconstruir a legitimidade democrática e eu não vejo a possibilidade de fazê-lo a não ser tratarmos da justa partilha do poder. E a justa partilha do poder tem a ver com representatividade de maiorias numéricas menorizadas politicamente", afirmou.
Ao longo da palestra, Edilene Lôbo apresentou alguns números referentes à ocupação de cargos no Brasil. Segundo a ministra, as mulheres compõem 16% dos parlamentos municipais. Desse percentual, 6% são mulheres negras. Na chefia do executivo, as mulheres representam 12%, dessas, 4% são negras. "Minas Gerais tem mais de 64 prefeitas, sendo uma prefeita negra, no total de 853 municípios", endossou.
Edilene também apresentou algumas ações afirmativas para melhorar a representatividade na política como, por exemplo, a cota de registro de candidaturas femininas e a distribuição do tempo de propaganda na televisão e no rádio. "Precisamos falar em distribuir os assentos nas casas parlamentares entre os dois gêneros de forma igualitária", disse, mencionando que a medida concordaria com o acordo global da Organização das Nações Unidas (ONU) assinado pelo Brasil, que se compromete a estabelecer paridade nos espaços decisórios do país até 2030.
O eleitor na era da tecnopolítica
A Profa. Dra. Bertha Maakaroun, jornalista do Estado de Minas e da CBN, ministrou palestra com o tema O Eleitor na Era da Tecnopolítica, que analisou o ambiente político e comunicacional da atualidade e como o eleitor se insere nele. A jornalista explicou que, recentemente, a centralidade de informações foi transferida das plataformas tradicionais, como rádio, TV e jornal, para as novas, que são as redes sociais, e que esse processo está inserido num contexto político e econômico.
A professora Bertha Maakaroun explicou que, recentemente, a centralidade de informações foi transferida das plataformas tradicionais, como rádio, TV e jornal, para as novas, que são as redes sociais
De acordo com a palestrante, esse é um pensamento de nova ordem, que aponta que o velho capitalismo financeiro foi substituído pelas empresas de tecnologia.
A jornalista, que também é cientista política, discorreu sobre a concentração inédita de poder político e econômico nas chamadas Sete Magníficas, que são as maiores big techs do mundo (Microsoft, Apple, Nvidia, Alphabet, Amazon, Meta e Tesla). "Em valores de mercado, as sete empresas somam 14 trilhões de dólares. Para colocar isso em perspectiva do que representa, o PIB do Brasil, em 2023, foi de 1,7 trilhões de dólares. E nós estamos entre as dez maiores economias do mundo", disse. Segundo Bertha, o valor de mercado dessas empresas é maior que o PIB de todos os países do mundo, com exceção dos Estados Unidos e da China.
Para discutir o tema da palestra, Bertha afirmou que a nova ordem tecnofeudal tem consequências sobre o eleitor e como ele interage e se posiciona politicamente. "O que vai diferenciar essa estratégia política da estratégia do século passado?", questiona. "Esse novo formato é muito mais assertivo, do ponto de vista da comunicação estratégica, de como atuavam as plataformas tradicionais de mídia".
"Em linhas gerais, quem que controla a tecnopolítica?", indagou Bertha. "No alto da pirâmide, nós temos as big techs e seus algoritmos. São atores políticos com interesses claros e estratégicos", disse. Como exemplo, a cientista política apontou o Brexit, a eleição de Donald Trump e o embate de Elon Musk com Alexandre de Moraes, Ministro do Supremo Tribunal Federal. "Se há algo positivo a se extrair desse debate é que escancara a natureza politicamente orientada e de interesses políticos, empresariais e econômicos das big techs", concluiu.
A íntegra do evento está disponível na transmissão do Canal do Youtube PUC Minas Lives.