14/05/2024 10:00
Nathália Farnetti
Programação do JFest prossegue até o dia 15 de maio também na Unidade São Gabriel
O Secretário de Comunicação da PUC Minas, Prof. Dr. Mozahir Salomão Bruck, participou nesta segunda-feira, 13 de maio, da mesa com o tema A atuação dos media nos regimes autoritários com a Profa. Dra. Ana Paula Goulart Ribeiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no auditório 3 do Campus Coração Eucarístico. A discussão integrou o JFest, evento promovido pelo Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes (FCA) em parceria com o Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPgCom), cuja programação prossegue com atividades também na Unidade São Gabriel, até 15 de maio.
Em sua palestra intitulada As (in)conveniências da memória e do esquecimento: Brasil 64 e Portugal 74, o pesquisador do PPgCom abordou as articulações entre memórias e narrativas a partir da atualização do estudo sobre os 50 anos da ditadura militar brasileira e os 40 anos da Revolução dos Cravos sobre como a mídia e o jornalismo abordam os dois períodos históricos. Partindo da relação entre memória e história, Mozahir Bruck iniciou sua reflexão dizendo que a história muitas vezes desconhece, despreza e se cala sobre o que a memória fala. Já sobre o que a história fala, a memória cria tensionamentos. "A memória reivindica versões muitas vezes também silenciadas. História e memória se embatem, se confrontam e se contradizem, mas também se retroalimentam e eventualmente, de algum modo, elas se somam e se fundem", afirmou ao explicar que a memória resulta de gestos e agenciamentos dos vivos e é, por definição, um fenômeno do presente.
Segundo Mozahir, a memória permite um movimento infinito de atualização já que é um ato do presente cuja substância é o passado e é nessa perspectiva de que o passado nunca está concluído. "Pensar sobre as (in)conveniências da memória e do esquecimento destes dois períodos históricos é refletir como os modos, como os acontecimentos, os personagens e os lugares são percebidos naquilo que ainda constituem campos de embates simbólicos, de disputas de significações, de tentativa de desvelamentos. Esses dois acontecimentos têm em comum o fato de terem sido movimentos de natureza civil-militar, só que com mão invertida", elucidou o Secretário de Comunicação, que também é Presidente da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Comunicação (Compós).
Memória e esquecimento como construções
Os fatos ainda não revelados da ditatura instaurada no Brasil no ano de 1964 são resultado de, ainda de acordo com Mozahir, duas estratégias de uma arquitetura do esquecer já que, assim como a memória, o esquecimento também pode ser construído. "Em Portugal, a Revolução dos Cravos em 1974, na contramão do gravíssimo momento autoritário vivido na América Latina, trouxe de volta a democracia aos portugueses. Mas, mesmo tendo derrotado a ditadura de Marcello Caetano, que tinha sucedido Salazar, tem ainda certamente silenciamentos notórios", pontuou.
A docente da Escola de Comunicação da UFRJ, Profa. Dra. Ana Paula Goulart, que participou do projeto Responsabilidade de empresas sobre violações de direitos humanos durante a Ditadura: o caso Folha de São Paulo, fruto de uma parceria com o Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP), apresentou informações e dados levantados pelo trabalho que teve início em 2020, a partir de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), envolvendo um acordo extrajudicial com uma empresa do setor automotivo.
A pesquisa, explicou Ana Paula, tinha caráter acadêmico, mas também uma peculiaridade: o objetivo de levantar uma materialidade comprobatória para que outros inquéritos fossem abertos contra outras 11 empresas. "É importante localizarmos essa pesquisa dentro do movimento chamado de Justiça de Transição no Brasil que tem a ver com a luta por memória, levar justiça e também reparação", disse.
Estruturado a partir de três eixos, sendo os ganhos econômicos por meio de incentivos públicos e da aquisição de empreendimentos enfraquecidos; o empréstimo de automóveis de entregas do jornal como disfarce para prisão de militantes; e o prejuízo gerado a jornalistas demitidos por abandono de emprego quando se encontravam encarcerados pela ditadura, o estudo traz luz ao aspecto até então pouco enfatizado na historiografia brasileira. "O lugar do empresariado nas violações de direitos ao conjunto de outros grupos sociais que foram invisibilizados como populações indígenas e quilombolas", citou a pesquisadora ao apresentar depoimentos e entrevistas com pessoas que vivenciaram esse período histórico dentro do veículo de comunicação.