
Uma versão impressa do Relatório Final da Comissão da Verdade em Minas Gerais (Covemg), que traz relatos e documentos sobre os atos de violações aos direitos humanos cometidos no Estado durante o regime militar, foi entregue oficialmente por integrantes da Comissão, nesta terça-feira, 6 de fevereiro, ao reitor da PUC Minas, professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, em reconhecimento ao apoio da Universidade na produção do documento. A reunião, realizada no gabinete do reitor, no Campus Coração Eucarístico, teve a participação do coordenador da Covemg, o professor Robson Sávio Reis Souza, que também coordena o Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp) da PUC Minas e da Arquidiocese de Belo Horizonte, e outros três conselheiros da Comissão, Maria Ceres Pimenta Spíndola de Castro, Carlos Melgaço e Paulo Afonso Moreira, além da coordenadora de equipe, Helena Amorim Pereira, e o pesquisador Celso Travassos.
Lançado em dezembro último, depois de um trabalho de pesquisa de quatro anos, o Relatório, que contou com a parceria da PUC Minas, resulta em cerca de 1,6 mil páginas, divididas em cinco volumes, que detalham como a violência e a tortura foram utilizadas como prática sistemática pelos agentes de Estado em Minas Gerais. A versão impressa do relatório foi entregue anteriormente aos órgãos dos Três Poderes, às entidades parceiras e demais órgãos ligados à área de direitos humanos, memória, justiça e verdade, como forma de documentação oficial. Já a versão digital está disponível no site da Covemg.
Ao receber o relatório, o reitor demonstrou satisfação e emoção com o resultado do trabalho, que, em suas palavras, recupera uma verdade que foi "trancafiada nos porões da ditadura". "Recuperar essa verdade não é uma tarefa fácil, porque delicada. É um esforço muito grande e está dentro da proposta da escritura cristã, que diz que a verdade nos libertará".
Dom Mol destacou o papel da Universidade em "não deixar na sombra o resultado de um trabalho importante como esse", que deve ser divulgado para as novas gerações para que conheçam de fato esse período sombrio da história brasileira. Ele observou que solicitará à coordenação da Biblioteca Padre Alberto Antoniazzi, no Campus Coração Eucarístico, que disponha os cinco volumes do relatório em um lugar de destaque para estimular que a comunidade acadêmica tenha acesso e conhecimento do documento. Disse ainda que enviará um pen-drive contendo o relatório à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília, cuja biblioteca reúne a memória da Igreja Católica brasileira.
Os membros da Covemg destacaram que no relatório há um capítulo dedicado à atuação das universidades mineiras durante o regime militar, entre elas a PUC Minas, principalmente a resistência democrática articulada por alunos e professores. Também há um capítulo dedicado à ação desenvolvida por religiosos e leigos da Arquidiocese de Belo Horizonte no período.
O professor Robson Sávio observou que, apesar de a Comissão ser extinta oficialmente no dia 8 de fevereiro, uma vez que cumpriu sua principal função, algumas ações ainda continuarão voluntariamente, como a divulgação de dois documentários, de caráter educativo, que serão finalizados neste mês de fevereiro: um sobre o histórico da Comissão da Verdade e o outro sobre o período do regime militar em Minas Gerais, a partir de relatos de pessoas que viveram esse período e que contribuíram com a Comissão. "A ideia é divulgar esses documentários em escolas, TVs universitárias e outros para que gerem debates esclarecedores sobre esse terrível período da história brasileira", pontuou o coordenador da Covemg.
O trabalho da Comissão
A Covemg foi criada em 2014 com o objetivo de investigar as violações de direitos humanos ocorridas em Minas Gerais entre 1946 e 1988 – especialmente aquelas decorrentes do regime ditatorial. Nesse período, mais de 80 pesquisadores (incluindo voluntários) e 40 bolsistas de iniciação científica contribuíram com os trabalhos, por meio de convênio firmado entre Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), Fundação Christiano Ottoni (FCO), Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sedectes), Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania (Sedpac), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Covemg. A PUC Minas e cerca de outras 50 instituições, incluindo as de ensino superior, entidades da sociedade civil e órgãos públicos, atuaram em parceria com a Comissão.
No que diz respeito à parceria da PUC Minas com a Covemg, foi criada uma comissão interna em 2016 para mapear documentos e resgatar fatos relativos à atuação da Universidade, seus professores e alunos na resistência ao regime ditatorial.
A Covemg ouviu 222 pessoas que vivenciaram o período, realizou pesquisa em acervos públicos e privados e apresenta documentos e relatos como forma de comprovar as violações praticadas. São também descritos quais foram os principais grupos atingidos pela repressão da ditadura militar, quem foram os mineiros mortos e desaparecidos no período, bem como quem foram alguns de seus violadores. O documento busca dar destaque ao estado de Minas Gerais, mas também complementar o trabalho que foi realizado pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), ampliando o número de mortos e desaparecidos da listagem oficial.
Assessoria de Imprensa