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Na noite desta quarta-feira, 22 de outubro, no Teatro São João Paulo II, Campus Coração Eucarístico, foi realizada a abertura do III Congresso Internacional de Saúde Mental na Contemporaneidade que, nesta edição, aborda o tema Aceleração da Vida e Ansiedade. A atividade é promovida pela PUC Minas, por meio da Pró-Reitoria de Extensão, da Faculdade de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação Profissional em Teologia Prática, com patrocínio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).

O Reitor da PUC Minas, Prof. Dr. Pe. Luís Henrique Eloy e Silva, definiu como oportuna a escolha do quarteto vocal do Grupo de Câmara PUC Minas, para a abertura do Congresso com a apresentação da canção Lua, Lua, Lua, Lua, de Caetano Veloso. Ele observou que a Lua simboliza na sociedade, na antropologia cultural e na história da humanidade o tempo do descanso e o tempo do silêncio. Segundo ele, ao olhar para a Lua e se recordar de tantas obras de arte influenciadas por ela, é preciso redescobrir novamente o sentido do silêncio, da pausa, e, sobretudo, do descanso que a natureza na sua sabedoria indica pelo anoitecer. O Reitor fez votos de que o evento seja, sobretudo, uma oportunidade de cada um se reconectar com o próprio interior e com os próprios valores.

O pró-reitor de Pesquisa e de Pós-Graduação, Prof. Dr. Martinho Campolina Rebello Horta, destacou que convivemos diariamente com os desafios de uma modernidade líquida, marcada pela instantaneidade, pela fluidez das relações e por uma instabilidade que se manifesta nas esferas emocional, social e econômica. Essa realidade reflete um cenário cada vez mais complexo, descrito por alguns teóricos como Mundo BANI: um acrônimo que representa, no original em inglês, um panorama global frágil (Brittle), ansioso (Anxious), não linear (Nonlinear) e incompreensível (Incomprehensible). "Nossa Universidade, por sua natureza católica, pontifícia e comunitária, constitui um espaço privilegiado para esse debate, ao articular uma formação técnico-científica de excelência, com um profundo compromisso com a formação humanista", opinou.

A pró-reitora de Extensão, Profa. Dra. Cláudia Venturini, pontuou que a iniciativa da Universidade em promover o congresso, que já está em sua terceira edição, demonstra o compromisso institucional com a promoção de debates qualificados; com a articulação entre ensino, pesquisa e extensão; e a missão da PUC Minas em contribuir com a transformação da nossa sociedade. "Nesse cenário, a extensão universitária se apresenta como um espaço privilegiado para o diálogo entre saberes, a escuta sensível e a construção coletiva de respostas aos desafios contemporâneos. Eventos como esse congresso são expressão concreta da responsabilidade social da Universidade que se compromete com a transformação da realidade que nos cerca. Que possamos juntos compreender melhor a ansiedade, não apenas para tratá-la, mas para acolhê-la, transformá-la e ressignificá-la".

A diretora da Faculdade de Psicologia (Fapsi), Profa. Dra. Mirelle França Michalick-Triginelli, ressaltou a importância de refletir sobre os desafios que atravessam nossa existência em tempos marcados pela velocidade, pela hiperconectividade e pela sobreposição constante de demandas. "A ansiedade – o sentimento natural de medo, receio do que não conseguimos prever ou controlar – não é apenas um sentimento, um sintoma individual, mas é sim um sintoma coletivo. É um reflexo, uma manifestação de uma estrutura social que exige produtividade incessante, disponibilidade permanente e respostas imediatas", disse, ao considerar que a ansiedade tem se mostrado como um grito silencioso diante de um modo de vida que exige demais e oferece pouco tempo para o cuidado, para a escuta e para o descanso.

"Precisamos repensar a lógica que organiza nossos tempos e nossos corpos. Precisamos nos perguntar que formas de vida estamos legitimando e reproduzindo, que espaços estamos criando ou deixando de criar para o cuidado de si e do outro. É nesse ponto que este congresso se torna não apenas um evento acadêmico, mas um espaço ético, político e existencial. Que possamos perceber que a pausa não é ausência de ação, é presença plena, é reconexão com o que importa, é resistência frente à lógica da aceleração. Que possamos sair daqui mais conscientes da urgência de cuidar de nós, dos outros e do tempo que nos atravessa", afirmou a docente, que preside a Comissão Organizadora do Congresso.

Também compôs a mesa de abertura o assessor da Pró-reitoria de Graduação, professor Robson dos Santos Marques, representando o pró-reitor de Graduação, professor Eugênio Batista Leite.

Aceleração da vida e ansiedade

A conferência de abertura, sobre o tema central do Congresso, foi ministrada pelo Prof. Dr. Mário Eduardo Costa Pereira, docente do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ele iniciou a sua palestra recitando a canção Sinal Fechado, de Paulinho da Viola, cujo enredo versa sobre dois amigos que travam um curto diálogo no trânsito, durante a correria do dia a dia. "Eu comecei com a letra dessa canção – que é extremamente atual, apesar de ter mais de 50 anos – para trazer algo do tempo que nos falta, que é essa sensação comum que talvez tenha sido a matéria-prima que levou ao tema desse encontro", explicou.

Para o psiquiatra, o tempo se tornou um recurso escasso e que provoca ansiedade, e que essa aceleração é fundamentalmente subjetiva e faz parte de um processo desse momento da nossa história da civilização. "A questão que proponho a vocês é: o que acontece ao sujeito quando o tempo social se acelera mais do que o nosso tempo mental subjetivo?", indagou.

Para abordar essa questão, ele fez um histórico da abordagem da ansiedade na ciência, desde o artigo A nervosidade Americana ou Neurastenia, escrito pelo médico americano George Beard, em 1881 – primeira descrição médica de uma situação clínica cuja matriz dessa condição patológica era encontrada na forma de vida social daquele momento –­, passando pela Teoria da Ansiedade, de Freud, até a Sociedade do Cansaço, descrição dos tempos atuais feita pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han.

As atividades prosseguem até o dia 25 de outubro. Confira a programação completa.