Resultados apontam para a importância da criação de legislação regulatória
Tremores e salivação intensos, agitação, ganido, latir, uivar, arranhar ou mastigar objetos, perda de apetite. Esses são sinais de medo e ansiedade em cães, comuns quando ocorre sobrecarga de estresse acústico. Trabalho desenvolvido por aluno do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde da PUC Minas concluiu que cães que vivem em áreas com altos níveis de ruídos podem estar sujeitos a uma sobrecarga de estresse acústico, que pode acarretar em alterações comportamentais e afetar seu bem-estar. "Tratamos como um problema sério quando se torna recorrente, como no caso destes animais que vivem no entorno de estádios. No Brasil, os jogos ocorrem, em média, de uma a duas vezes por semana", explica a orientadora do estudo e professora do Programa de Pós-graduação em Biologia de Vertebrados, Angélica Vasconcellos. O estudo foi desenvolvido como Trabalho de Conclusão de Curso do então aluno de Biologia Vinícius Miguel Carrieri-Rocha. As medições foram feitas e analisadas utilizando equipamentos do Laboratório de Bioacústica do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, com co-orientação de Marina Duarte, coordenadora do laboratório.
Para verificar como a alta intensidade sonora afeta os animais, Vinícius entrevistou donos de cães residentes no entorno da Arena Independência e do Mineirão para avaliar possíveis diferenças no comportamento dos animais em dia de jogos e em dias sem jogos.
Nos dias sem jogos, o nível máximo de ruído foi 84,8 dB(A), Laeq 65,0 dB(A). Já nos dias de jogos, o valor máximo chegou a 91,8 dB(A), Laeq 80,0 dB(A), sendo que o nível de decibéis aceitável para o ouvido humano é 70. Não existem dados relativos à tolerância dos cães. Dentre os 30 cães analisados, 27 apresentaram alterações comportamentais relacionadas a medo e ansiedade em dias de jogos, sendo essas alterações mais comuns nos que residiam mais próximos aos estádios.
Esses dados apontam para a importância da criação de legislação regulatória para níveis de ruído próximos a estádios de futebol e sugerem a necessidade do uso de estratégias para melhorar o bem-estar de cães morando próximos a esses locais. "O que seria possível é uma delimitação de perímetro ao redor de estádios onde não deveria haver casas." Um exemplo é a Esplanada do Mineirão, em que as casas são distanciadas do estádio. Nas nossas medições, o ruído ao redor do Mineirão não apontou aumento na intensidade em dias de jogo", explica Angélica.