"O princípio da solidariedade nos ajuda a perceber o óbvio: que precisamos uns dos outros", afirmou o Reitor da PUC Minas, Prof. Dr. Pe. Luís Henrique Eloy e Silva, durante a palestra A Escola Fraterna e Solidária, na abertura do Dia Anec, promovido pela Associação Nacional de Educação Católica do Brasil. A PUC Minas sediou o evento, que aconteceu no último sábado, 18 de março, no Teatro São João Paulo II, no Campus Coração Eucarístico. O Reitor dissertou sobre a solidariedade, um dos quatro princípios da doutrina social da Igreja, juntamente com o bem comum, capacidade de pensar para além do bem individual; dignidade da pessoa humana, princípio que está relacionado aos direitos que toda pessoa tem e que precisam ser respeitados, como saúde, educação, alimentação e moradia; e subsidiariedade, que diz respeito à organização social que sustenta as questões de uma sociedade, sejam elas individuais ou coletivas.
De acordo com o Pe. Luís Henrique Eloy e Silva, solidariedade é o princípio que ajuda as pessoas a entenderem que elas possuem uma dimensão social. "É aquele olhar que o ser humano precisa desenvolver para além de si mesmo e de um grupo no qual ele se insere. Solidário, então, não é simplesmente alguém que ajuda alguém. É alguém que desenvolve a sensibilidade de entender que este mundo não foi feito só para si, e que existe uma corresponsabilidade moral e social do indivíduo para com o seu entorno", explicou, ao reforçar que é justamente a corresponsabilidade pelo bem do outro que fará com que a sociedade não somente progrida, mas que as pessoas tenham dignidade. "É a solidariedade como um valor moral a ser assumido como um objetivo de vida", afirmou.
Segundo ele, é fundamental que a educação, sobretudo a católica, seja voltada para o desenvolvimento desse princípio. O grande desafio, no entanto, é a ausência explícita da consciência do princípio de solidariedade na sociedade pós-moderna, que gera nas pessoas, cada vez mais, uma tendência ao individualismo. E, por esse motivo, seja sempre necessário refletir por que o ser humano corre sempre o risco de se esquecer do outro. "O olhar para o outro é sempre um olhar aprendido. Uma criança necessariamente não compartilha das suas coisas. Quase sempre ela precisa ser ajudada a fazer isso. Este é sempre um esforço perene na nossa vida: sair de nós para ir ao encontro da necessidade do outro. Isso é mais amplo do que simplesmente ajudar com um prato de comida ou com um cobertor no frio", pontuou, ao afirmar que a solidariedade precisa ser parte de um projeto de educação consciente e claro. "Muito me preocupa quando em uma universidade, por exemplo, os jovens universitários se interessam pouco por questões políticas, sociais e econômicas, não acompanham os grandes debates, não saibam o que está acontecendo. Não é questão simplesmente de ser de direita ou de esquerda, é uma questão de preocupação com a realidade na qual se está inserido".
O que poderia, então, ser visto como um processo de educação para a solidariedade? Para o Reitor, é preciso pensar em quem faz, para quem faz e onde faz: o sujeito, o destinatário e o ambiente em que aquilo será produzido. No caso da realidade escolar, os agentes da solidariedade são todas as pessoas inseridas naquele ambiente: direção, professores, alunos e funcionários. "O projeto de uma educação para a solidariedade é amplo, sistêmico e envolve a todos, desde os princípios que são discutidos até os meios, os caminhos que serão utilizados para que a temática possa penetrar a vida diária dos nossos ambientes", afirmou.
Ele reforçou que todos os agentes são, ao mesmo tempo, destinatários pois a partir do momento em que o ambiente começa a viver a solidariedade, todos são impactados positivamente por aquelas pessoas que são capazes de ser agentes de transformação. "E com isso eu gostaria de dizer que nós precisamos nos sentir corresponsáveis pela educação e a solidariedade dos outros, sujeitos e receptores nesta vida de comunhão, que é a palavra por excelência da vida cristã. E aí entendemos que além do mundo interno da nossa escola, nós nos abrimos para as famílias dos estudantes e para o entorno onde se encontra a nossa escola, buscando também gerar ali, por irradiação, uma perspectiva pedagógica desse princípio de solidariedade", explicou.
Essa expansão da solidariedade do ambiente interno escolar para o ambiente externo social é expressa no princípio do testemunho, defendido pelo Papa Francisco, definido por ele como "uma força silenciosa, mas profundamente transformadora", já que é a capacidade de uma realidade micro referencial transformar uma realidade macro. "Se no meu ambiente de trabalho, consciente deste meu esforço de ser sujeito, mas também receptor de uma educação para a solidariedade, eu lido a partir deste prisma com as pessoas que estão ali comigo, essas pessoas também levarão isso como um valor e, de repente, vão fecundar essa realidade na sua casa, com pessoas que talvez não tiveram a oportunidade que aquela pessoa tem de estar naquela escola católica", exemplificou.
Nessa perspectiva, a solidariedade torna-se necessariamente um princípio inclusivo. "Uma escola católica precisa ser, por excelência, um espaço de inclusão, de respeito, de acolhida, um lugar onde as pessoas são recebidas para se tornarem melhores, para saírem dali melhores do que entraram. Isso significa evolução. E toda inclusão deve ser feita nessa perspectiva porque num país com uma realidade como a nossa, onde muitas vezes, infelizmente, as pessoas são segregadas, marginalizadas, por questões que dizem respeito a uma insensibilidade inclusiva, nós, cristãos, não podemos correr o risco de cair nesse mesmo espaço", afirmou.
Também é preciso, segundo Eloy e Silva, que essa busca de um esforço pedagógico para a solidariedade descortine horizontes. "As pessoas que fazem uma experiência autêntica de espiritualidade, as pessoas que são regidas pela fé, lidam também de uma forma resiliente e superior para com as dificuldades ao longo da sua vida porque tem algo que as norteia, tem algo que as impulsiona, e isso faz diferença", explicou.
Ele também colocou a importância de que esse nosso projeto de uma educação para o princípio da solidariedade aconteça dentro e fora da sala de aula. "Seria muito auspicioso que os nossos egressos, no campo de trabalho em que estiverem, chamem a atenção pela competência e pela capacidade de conviver com os pares com criatividade, resiliência e humanidade. Isso faria realmente com que as nossas escolas se tornassem diferentes das outras que já oferecem competência, oferecem conteúdo, mas, muitas vezes não se ocupam desse elemento fulcral e central para nós, que é transformar vidas, que é fazer com que as pessoas se tornem melhores do que elas são".
De acordo com o Reitor, os frutos dessa educação inclusiva, descortinadora de horizontes e baseada nos valores cristãos é a certeza que a educação para a solidariedade transforma. E, para alcança-la, é preciso entender primeiramente que esse processo é pessoal. "O próprio processo é imprescindível porque o testemunho, na fala do Papa Francisco, associado à coerência de vida é o elemento transformador da realidade. E quando existe a ocupação com o próprio processo, existe também uma sensibilidade com o processo do outro. O outro também é alguém que está em processo", refletiu.
Segundo ele, é necessário também que a educação para a solidariedade gere três culturas: a do encontro, a da escuta e a do dom. "A cultura do encontro, que é tão pedida pelo Papa Francisco, significa a capacidade de entender que os nossos espaços são espaços de encontro, e por serem espaços de encontro, eles transformam. O ser humano, quando vai a uma escola, ele não vai apenas para aprender uma matéria, objetivamente falando. Ele cresce com o espaço, com os colegas, ele cresce o tempo todo quando o espaço é propício. E nesta cultura do encontro, é preciso que cada vez mais estejamos conscientes do respeito ao diferente, gentileza, cordialidade" afirmou.
Já a cultura da escuta é aquela que promove diálogo. "O diálogo verdadeiro não é quando duas pessoas falam, mas quando elas escutam um ao outro. E como a cultura do encontro gera cordialidade, a cultura da escuta e do diálogo gera gratidão. A gratidão é uma das virtudes mais importantes do princípio de solidariedade porque ela tem uma perspectiva de benevolência". A cultura do dom é, segundo ele, a que desperta a responsabilidade para com o futuro.
Por fim, ele pontuou que embora a solidariedade seja um dos quatro princípios básicos da doutrina social da Igreja, é preciso que ela seja elevada à fraternidade, que é o passo maior. "Na fraternidade, nós entendemos que não é somente o outro que precisa de mim ou o outro do qual eu preciso, na fraternidade eu entendo que o outro é meu irmão, e quando eu olho para o outro e o vejo como meu irmão, eu o vejo em uma perspectiva que não é somente mais de uma dignidade que precisa compor a cultura, a antropologia social, o bem-estar das pessoas, mas é algo que propicia a perspectiva cristã. Porque quando o filho de Deus se faz um de nós para que nós possamos no parecer com ele, nós então aprendemos que ele veio para nos ensinar o que significa ser gente, o que significa ser humano e o que significa ser irmão. O desejo é que nossa solidariedade se transforme sempre mais em fraternidade e o nosso entorno se torne cada vez mais cristão, humano e humanizador", finalizou.
Dia Anec
Promovido pela Associação Nacional de Educação Católica do Brasil, o Dia Anec visa promover a reflexão sobre temas como o diálogo inter-religioso, o trabalho em rede, o diálogo entre ciência e fé, a espiritualidade, a liderança servidora, a ética cristã, o respeito à diversidade, a cidadania global, a justiça, o bem comum e a ecologia integral. "Devemos resgatar a identidade católica dos nossos centros educativos por meio de um impulso missionário, corajoso e audaz, de modo que chegue a ser uma opção profética plasmada em uma pastoral da educação participativa", afirmou Clóvis Oliveira, membro do Conselho Estadual da Anec Minas Gerais, que participou da mesa de abertura juntamente com o Reitor da PUC Minas.
A programação do Dia Anec também contou com a palestra a Escola Fraterna a partir da Ecologia Integral, que foi ministrada pela Profa. Dra. Aleluia Heringer, diretora de Educação e Relações Institucionais da Sociedade Inteligência e Coração, mantenedora dos Colégios Santo Agostinho; momento de espiritualidade conduzido pelo Prof. Dr. Genésio Zeferino da Silva Filho, reitor do Centro Universitário Católico do Leste de Minas Gerais (Unileste); e apresentação cultural do Quarteto de Cordas e do Quarteto de Vozes da PUC Minas.
O Dia Anec está disponível na íntegra no canal Anima PUC Minas no YouTube.
Assessoria de Imprensa
PUC Minas