Entrevista

ICEG ESCOLA DE NEGÓCIOS: 50 ANOS DE MUITA VIDA

A seguir, confira a entrevista que os professores Decanos Ângela Cupertino (AC) e José Luiz Faria (JL) deram ao professor Edmundo de Novaes Gomes (EG) e aos estudantes Paulo Gabriel Claro (PC) e Vítor Fiúza (VF). Nela, você vai conhecer detalhes sobre a fundação do ICEG, desde que a então Universidade Católica de Minas Gerais (UCMG) assumiu a Faculdade Municipal de Ciências Econômicas (FAMCE), que pertencia à Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Detalhes que construíram uma longa história de sucesso. Confira.

foto1.jpg
Prédio 14: sempre ICEG
Foto: Edmundo de Novaes Gomes

Professor Edmundo de Novaes Gomes (EG) - Hoje, quando olham para o ICEG ESCOLA DE NEGÓCIOS e para a PUC Minas e pensam na participação de vocês, que vem do início, o que sentem?

Professor José Luiz Faria (JL) - Eu penso que nossa história mostra realmente todo um anseio que se refere ao crescimento, à construção de algo importante. Trata-se de uma história antiga, que surgiu no IMACO e na FAMCE. Hoje, acho mesmo que estamos mais tranquilos. E isto acontece porque temos cursos consolidados, que colaboram de maneira efetiva para que a PUC Minas tenha toda essa grandeza. Fico me lembrando do professor Wilson Chaves - que também foi pró-reitor, diretor do Instituto de Ciências Humanas da PUC Minas e professor da FAMCE e do IMACO. Ele era um grande educador e sempre trazia uma angústia sobre o futuro, sobre aquilo que nos tornaríamos. Quando falávamos sobre o que estava à nossa frente, eu sempre lhe dizia: "Professor, apesar de todos os problemas que vivemos, as gerações vão passando, vão se formando e as coisas caminham”. Então, é isso: quando eu olho para o passado, não posso deixar de ver e acreditar no futuro. Quantas e quantas gerações passaram pelo ICEG? Quantos profissionais se formaram com excelência de qualidade, muitos deles mais competentes até mesmo do que nós, professores? A resposta é que, no ICEG, vivemos dia a dia algo que é constante: a evolução.

EG - Mas houve muita dificuldade, não é mesmo?

JL - Claro que sim. No entanto, apesar delas, nossos cursos proliferaram. Nós conquistamos um nome extremamente respeitável na área acadêmica e no próprio mercado. As dificuldades existem para serem vencidas. Veja só o exemplo que estamos dando agora. Estamos com quase dois anos de uma pandemia sem igual em nossa história mais recente. Mas, apesar dela, o ICEG cresceu. Assim, mesmo um problema tão triste não conseguiu tirar nossa confiança, nosso desejo de futuro, de crescer, de vencer desafios. O que você acha, professora Ângela?

Professora Ângela Cupertino (AC) - Eu concordo com tudo o que você disse, José Luiz. A caminhada realizada por nossos cursos dentro e fora da Universidade é extremamente bela. Quando a FAMCE foi encampada pela então Universidade Católica, Administração e Ciências Contábeis eram um curso só. O desmembramento, como conhecemos hoje, só aconteceu em 1984. Em seguida, veio o reconhecimento do mercado, de maneira consistente. Atualmente, se você chega em uma empresa com um diploma do ICEG, você é plenamente reconhecido. Nesse sentido, estudar aqui é uma vantagem competitiva para nosso aluno.

EG - Vantagem competitiva?

AC - Exatamente. Primeiro porque o ICEG ESCOLA DE NEGÓCIOS pertence à PUC Minas. E não é demais dizer que a PUC Minas é uma verdadeira grife da área de ensino. Não há quem não respeite. Mas, além disso, como disse o professor José Luiz, olhamos para o passado e enxergamos o futuro. E sabe por quê? Porque não ficamos parados no tempo. Nossos cursos, embora tragam dentro de si uma tradição inconfundível, são permanentemente atualizados. Nossos projetos representam aquilo que há de melhor no mundo inteiro. Não é à toa que temos lugar de destaque no ranking da revista britânica Times Higher Education por dois anos consecutivos. Então, se um pai, por exemplo, quer investir em seu filho numa carreira gerencial, o que ele irá escolher? Eu não tenho dúvida que a escolha cairá sobre uma instituição que lhe garanta tradição e modernidade ao mesmo tempo. Ou seja: no ICEG.

EG - Como diretora do ICEG durante muito tempo, a senhora sabe o que está dizendo...

AC - E sei mesmo (risos).

EG - Agora vamos voltar para o senhor, Prof. José Luiz. Conte-nos um pouco de sua participação nesse começo do ICEG...

foto3.jpg
Professor Decano José Luiz Faria
Foto: Edmundo de Novaes Gomes

JL - Antes de mais nada, é preciso lembrar que o IMACO, de onde viemos, era uma simples escola técnica de comércio. Mas uma escola que ganhou projeção internacional, porque seus professores, todos concursados, participaram de inúmeros congressos. Há 60 anos, estes cursos mudaram de patamar, a partir de uma lei que estabeleceu a criação dos cursos superiores dentro de uma escola técnica. Naquele mesmo momento, surgia também a lei de diretrizes bases da educação, a primeira que tivemos, que foi bastante debatida por importantes figuras da educação nacional. Havia uma enorme ansiedade para que tivéssemos outros cursos superiores da área econômica. Daí, surgiu a experiência de um curso integrado, compreendendo as três formações: Ciências Contábeis, Administração e Economia. Então, foi assim que a área gerencial e econômica surgia na Universidade, vinda do IMACO, da FAMCE.

Paulo Gabriel Claro (PC) - O senhor sabe de tudo!

JL - Claro! Eu estava lá. (risos) Mas é importante lembrar que os professores do IMACO, todos eles aprovados em difíceis concursos, eram grandes profissionais em suas várias áreas de atuação. Por causa deste qualificado corpo docente, o IMACO passou a ser considerado uma das melhores escolas de ensino técnico da contabilidade do Brasil.

Se fizermos uma analogia com a questão familiar, veremos que o IMACO foi o pai da FAMCE e a FAMCE foi a mãe do ICEG. Antes de existir o Instituto Municipal de Ciências Contábeis (IMACO), o que havia era a Escola Técnica de Comércio Municipal, criada pela Lei 371, de 1 de fevereiro de 1954, componente do Departamento de Educação e Cultura da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Pela Lei Municipal 0903, de 14 de dezembro de 1961, foi criado o IMACO, uma autarquia municipal que se destinou a ministrar o ensino de Administração e Ciências Contábeis em seus diversos níveis, de acordo com os Decretos Federais 6.141 e 7.988.

Vítor Fiúza (VF) - E a PUC Minas nisso tudo?

JL - PUC Minas, não. Estamos falando de um tempo em que o que existia era a Universidade Católica de Minas Gerais, a UCMG. Mas eu entendi o que você quis dizer. Na verdade, em função daqueles difíceis concursos da Prefeitura de Belo Horizonte, nós já éramos professores e, assim, viemos para cá. Fomos acolhidos como professores titulares e isto foi resultado do decreto e da lei que foi aprovada, na época, na Câmara Municipal de Belo Horizonte, sancionada pelo prefeito e depois incorporada à Universidade Católica. Fomos recebidos pelo grão-chanceler Dom João Rezende Costa e pelo reitor Dom Serafim Fernandes de Araújo e, rapidamente, nos integramos ao regimento e ao estatuto da Universidade. Vale recordar que fomos, neste início, inquilinos de vários prédios que eram ligados à UCMG, tais como os do Colégio Santa Maria, na Floresta, e do Colégio Sagrado Coração de Maria, na Serra. Quando finalmente chegamos ao campus do Coração Eucarístico, fomos instalados no prédio da Faculdade Mineira de Direito.

AC - Exatamente. Até que o prédio 14 foi construído e recebeu os três cursos, onde estamos até hoje.

EG - Quando foi isso?

AC - Em 1972. Ou seja: a competência da PUC Minas é antiga. A FAMCE veio pra Universidade Católica em 1971 e, um anos depois, já estávamos ocupando um grande edifício só nosso.

JL - Nós viemos em 71, não é mesmo, professora? Quando ainda era a Faculdade de Ciências Econômicas. Então, cada curso tinha sua coordenação. Me lembro bem! Dom Serafim não pôde comparecer à cerimônia. Assim, quem veio foi nada menos que Dom João Rezende Costa. Com o bom humor que lhe era característico, Dom João disse que nós éramos a nova face da Católica. Mas eu vim antes dessa inauguração. E sou testemunha de que o trabalho que já havia sido muito bem-avaliado pelo Conselho Estadual de Educação foi acolhido e reconhecido pela UCMG. A mudança, além de significar o crescimento do número de vagas para a educação superior gerencial e econômica, trouxe também para o curso a tão valiosa autonomia universitária. Pertencíamos, agora, a uma grande universidade! Estávamos todos muito orgulhosos disto.

Criar cursos integrados foi o grande diferencial da UCMG. Economistas, administradores e contadores poderiam ser formados em um mesmo processo. Em Minas Gerais, pelo menos, nenhuma instituição de ensino havia tido essa ideia. Mas nem tudo foi fácil, como acontece com todas as ideias que trazem em si a semente da ousadia. Os cursos já estavam em pleno funcionamento, entretanto, os diplomas não eram reconhecidos. Para que isso acontecesse, foi necessário um acordo com o ministro da Educação e com o presidente militar da época.

foto2.jpg
Professora Ângela Cupertino 
Foto: Edmundo de Novaes Gomes

EG - Profª Ângela, e a senhora? Como foi sua entrada na universidade? Acho que não é exagero dizer que você cresceu junto com o ICEG, não é mesmo?

AC - Crescer, não (risos). Mas eu acompanhei, vamos dizer assim. Eu entrei como aluna, fiz vestibular em 1967. De 1967 até 1972, como estudante. Eu fiz os seis anos. Com quatro, me formei em Contábeis. No quinto, fiz administração e, no sexto, economia. Já em 1973, apenas seis meses depois de formada, o prof. José de Almeida me convidou para fazer uma substituição. Creio que ele estava como diretor ou coordenador, não me lembro o cargo, mas era responsável pelos três cursos do ICEG que, naquela época, não se chamava ICEG, como você já sabe.

VF - Nossa! Que coisa bacana. Seis meses depois de formada e já começava a dar aulas... Como foi isso?

AC - Ele fez um convite para eu começar a lecionar. Naquela época, a graduação bastava para você ser professor Não é como hoje, que você precisa de mestrado e doutorado. Cursos de especialização sequer existiam! Então, mais ou menos em setembro de 1973, eu entrei fazendo a substituição de um professor. A disciplina era Economia Empresarial, se não me engano. Na época, eu trabalhava também em uma empresa como técnica em contabilidade. Mas assumi a disciplina e, depois, de 73 para frente, na medida em que foram surgindo oportunidades para lecionar contabilidade, eu assumi disciplinas desta área. Matérias que possuíam o mesmo conteúdo com o qual eu estava mais acostumada em meu dia a dia de trabalho.

EG - E como a senhora entrou na área administrativa da Universidade?

AC - Acho que fiquei como apenas professora até 1980. Depois, assumi três mandatos da coordenação do curso de Ciências Contábeis. Você, José Luiz, estava junto com a gente...

JL - Sempre estive (risos).

AC - O convite partiu do prof. Gamaliel Herval, que era o reitor nessa época. Neste mesmo momento, por influência dele, os cursos passaram a ser independentes. Havia ainda alguma integração, mas eram separados.

EG - E a Pró-reitoria?

AC - Aí foi um convite do Pe. Magela, que aconteceu em 1990. Ele me chamou para comandar a Pró-reitoria de Execução Administrativa. A Proead reunia a parte pessoal e financeira. É bom lembrar que, até o início de 1990, a PUC Minas – já era PUC Minas! – não possuía nenhuma outra unidade fora do Coração Eucarístico. Em meados de 1990, inauguramos o curso de Ciências Contábeis, em Contagem. Fiquei na Pró-reitoria até o ano de 2000, quando recebi o convite para vir para cá e fiquei até fevereiro de 2020. Então, foi esta a minha caminhada.

Para situar o relato da profª Ângela Cupertino e do prof. José Luiz Faria, vale lembrar que a UCMG foi fundada por Dom Cabral em 1958, portanto, 13 anos antes da criação do ICEG. O primeiro reitor da Universidade foi o padre José Lourenço da Costa Aguiar. Depois dele, vieram Dom Serafim Fernandes de Araújo, o prof. Gamaliel Herval, os padres Lázaro Assis Pinto e Geraldo Magela Teixeira, e o prof. Eustáquio Afonso Araújo. Hoje, a PUC Minas é comandada pelo prof. Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães. No que se refere ao ICEG, os diretores foram três, uma vez que o Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais da PUC Minas foi criado apenas em 1998. Assim, o prof. Paulo Sérgio Martins Alves esteve à frente do ICEG entre 1998 e 2001. Em seguida, assumiu a profª Ângela Maria Marques Cupertino. Ela ficou até 2020, quando a direção foi entregue ao prof. José Chequer Neto.

PC - É muita história!

AC - Ah! É preciso dizer que, ocupando ou não cargos administrativos, eu sempre lecionei. Para mim, a sala de aula sempre foi uma paixão enorme. Outra coisa que não posso esquecer, porque faz parte da própria história da PUC Minas, é do Prepes. Este programa pioneiro e inteiramente voltado para a pós-graduação formou milhares de professores no Brasil inteiro. E eu tive a honra de coordenar, por bastante tempo, os cursos de especialização da área de contabilidade. É preciso lembrar que, por volta de 1980, o MEC passou a determinar que os professores de nível superior tivessem, no mínimo, o título de especialização. Daí a grande importância do Prepes. Ele formou professores do País inteiro. Até mesmo o nosso ICEG foi muto beneficiado, uma vez que muitos professores puderam avançar com seus conhecimentos aqui mesmo na PUC Minas, sem precisar ir pra São Paulo ou Rio de Janeiro em busca de uma pós-graduação.

EG - Nesse começo, quais foram os grandes desafios?

JL - Creio que o primeiro foi o desafio de formar a grande quantidade de alunos que tivemos ao longo de nossa história. Houve épocas em que foi necessário dividir turmas, contratar novos professores. Depois, havia também o desafio de posicionar cada um dos três cursos de maneira certeira, focando no público mais específico de cada um e na necessidade de inserir nossos estudantes no mercado de trabalho. Produzir cursos de qualidade indiscutível! Este é um desafio permanente que o ICEG, até hoje, consegue vencer com determinação.

AC - É isso mesmo que o prof. José Luiz falou. E é preciso perceber que todos esses desafios tinham caráter essencialmente prático. Eram coisas reais, como ser aprovado pelo MEC com a melhor nota possível, ou correr atrás de uma novidade que surgia no mercado, a fim de que estivéssemos sempre atualizados.

PC - E as alegrias? Quais foram elas?

AC - Ah! Foram muitas. Sempre.

JL - Não podemos nos esquecer que, em nosso País, muito pouca gente tem a possibilidade de ter um curso superior. Segundo a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apenas 21% chegam à universidade, número muito abaixo da própria média deste organismo. Há 50 anos, quando começa a história do ICEG, este número é ainda menor. Então, posso dizer que a grande alegria é ver a realização de pessoas que talvez não pudessem ter acesso ao ensino superior, não fossem instituições como a nossa. Ver egressos nossos ocupando grandes cargos em empresas importantes tanto do setor público como do privado é uma verdadeira benção. Em meus 35 anos como professor, acho que saber daquilo que o ICEG possibilitou a milhares de pessoas de todas as classes sociais é minha maior alegria.

AC - Realmente! O prof. José Luiz disse tudo. Mas algo que sempre me alegrou também foi a avaliação reiteradamente muito positiva da sociedade com relação ao trabalho que desenvolvemos no ICEG. O reconhecimento de empresas do setor público e do privado, de profissionais importantes de todas as áreas, inclusive formados por outras universidades, é algo que nos faz sorrir. E, neste ponto, há também o prazer do reconhecimento. Ver aquele que se formou no ICEG valorizar aquilo que recebeu a partir do nosso trabalho afaga nossa alma.

JL - Exatamente. Conviver com gerações e gerações de estudantes é algo capaz de nos tornar melhores como homens e mulheres. Entretanto, não poderíamos deixar de mencionar neste capítulo das alegrias alguns fatos pontuais. Um deles é a criação da Fundação Dom Cabral, uma das instituições mais importantes do mundo no que se refere ao ensino da coisa gerencial. Sim, foi aqui no ICEG que esta grande escola nasceu, pela iniciativa de professores como Emerson de Almeida e muitos outros.

AC - Boa lembrança, prof. José Luiz. Foi de dentro dos nossos muros que a Fundação Dom Cabral partiu para conquistar o mundo, oferecendo formação de ponta para executivos e empresários do Brasil inteiro. Os cursos criados pelo prof. Emerson aqui na PUC Minas se transformaram depois em MBAs cobiçados pela nata gerencial do País.

EG - Hoje, vivemos um momento único, de rara dificuldade. Esta pandemia tem tornado as coisas mais difíceis em todos os sentidos. Para o setor da educação, principalmente. No passado do ICEG, vocês já viveram algo semelhante?

JL - Este momento é mesmo ímpar. Creio que nunca vivemos algo tão denso. Mas isso não quer dizer que houve dificuldades.

EG - Por favor, professor, conte-nos pelo menos um desses casos.

JL - Quando você repara na data de criação do ICEG, 1971, de cara pode perceber que o Brasil vivia um de seus momentos mais graves. Estávamos em plena ditadura militar. Mas a Universidade, na época do governo militar, viveu acontecimentos de grande seriedade. Houve um episódio em que a UCMG correu um grande risco, envolvendo mesmo uma ameaça de desapropriação ou mesmo expropriação. A ideia era que a UCMG passasse a ser controlada pelo governo militar, que queria manter sua ideologia e logística dentro de todas as escolas públicas e, também, particulares. Foi graças ao ex-governador Magalhães Pinto, político habilidoso, que a UCMG conseguiu evitar que os militares conseguissem seu intento.

PC - Como assim?!

JL - Calma! Eu ainda não cheguei no ICEG. Depois de terem tentado o que eu acabo de dizer, os militares passaram a intervir na Universidade. Um dos alvos foi a recém-criada FAMCE, que foi invadida por uma corporação da polícia militar. Isto aconteceu no antigo prédio do IMACO. Em uma das assembleias realizadas, eles queriam levar presos os estudantes. Depois disso, todos sabemos, um ou outro curso era apanhado. Lembro-me de um caso ao mesmo tempo triste e jocoso, envolvendo o interventor militar do IMACO.

VF - Interventor militar?!

JL - Exatamente. Durante o regime militar as escolas públicas tinham um interventor. Isto não foi diferente na FAMCE e, também, no IMACO, que tinha o professor Sadi como diretor técnico. Ele teve que se sujeitar a um diretor colocado pelos militares, um tenente-coronel, que, de uma só vez, demitiu nada menos que 13 professores.

EG - Mas até agora não vi nada jocoso. Só triste...

JL - Espera!

VF - O que aconteceu?

JL - Aconteceu que, depois de demitir 13, o tal tenente-coronel chamou em seu gabinete o prof. Adauto Junqueira Rebouças que, diga-se de passagem, também não comungava com a ideologia do regime. Por isso, o prof. Adauto caminhou para o gabinete do militar na certeza de que seria mandado embora. Mas, ao chegar lá, o interventor disse que o havia chamado para cumprimentá-lo, porque ele havia sido classificado em primeiro lugar no Conselho Federal de Educação.

EG - Como assim?

JL - Entretanto, na realidade, era apenas uma lista em ordem alfabética e, neste caso, o professor Adauto dificilmente perderia. Acreditando que não havia sido demitido, pelo engano do tenente-coronel, o prof. Adauto contava isso para nós, colegas, e a risada era generalizada. Infelizmente, foi esse tipo de gente que esteve à frente da educação do País nesta época que todos esperamos jamais se repita.

AC - Como este caso do prof. José Luiz, não tenho nada para contar. Mas, para ficar nessa época, me recordo de coisas tristes envolvendo esse mesmo tenente-coronel. Eu era aluna e, certa vez, estávamos todos em sala quando esse interventor entra. Todo mundo já sabia que tinha que ficar de pé para recepcioná-lo. Foi então que uma aluna não se levantou. Ele ficou aguardando que ela se levantasse. Só ela sentada, todo mundo de pé. Percebendo que a moça não iria ceder, ele começou a bater boca com ela. O resultado é que ela foi suspensa e eu fiquei muito assustada.

Mais um caso contado pelo prof. José Luiz. O interventor entrou em uma sala acompanhado do prof. Sadi. Aliás, ele exigia que o prof. Sadi, diretor técnico do IMACO/FAMCE, sempre o acompanhasse em tais momentos. Em uma dessas vezes, os dois conferiram a chamada feita pelo professor e perceberam que ele havia marcado a presença de dois alunos que não estavam em sala de aula. Criou-se um caso que deixou todos em alerta. Menos o prof. Leopoldo Alves, excelente mestre e um verdadeiro cientista das matemáticas, também conhecido pelo fato de jamais fazer chamada, uma vez que tinha outras maneiras “mais inteligentes” de saber quem estava em suas aulas. Quer dizer, jamais fazer chamada até o dia em que o interventor e o diretor Sadi entraram em sua sala para assistir à aula e conferir a chamada... Mestre Leopoldo, contudo, não se fez de rogado e, ao final da aula, foi logo dizendo: “Hoje nós não vamos fazer chamada, como habitualmente fazemos. Eu vou passar uma lista de presença”. Por dentro, os alunos riam, pois sabiam que, nas aulas de matemática, jamais haviam assinado uma lista sequer ou levantado a voz para dizer “presente”! Mas o melhor de tudo foi o que disse o tenente-coronel para o prof. Leopoldo, ao final daquela aula: “Leopoldo, eu queria cumprimentá-lo, porque é a primeira vez que vejo um professor que, fazendo com que os alunos assinem a chamada sempre, não possibilita que haja fraude na frequência”. Segundo o prof. José Luiz, no tempo em que calculadoras eram proibidas nas provas e até mesmo em exercícios, mestre Leopoldo insistiu com a diretoria do ICEG para que fosse feito o contrário: as famosas HPs, calculadoras de precisão da época, deveriam ser usadas, a fim de ensinar os alunos a manobrar aquela ferramenta que representava o futuro, segundo ele. Ele venceu e, por isso, os cursos do ICEG foram os primeiros da PUC Minas em que o aluno podia usar uma calculadora.

foto4.jpg
Placa no prédio 14: primeiros formandos 
Foto: Edmundo de Novaes Gomes

PC - Como aluno, eu gostaria de fazer uma pergunta que coloque a perspectiva de um futuro. E até penso em uma frase de “Alice no País das Maravilhas”. É aquela, em que o gato diz para a Alice: “Para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve”. A partir desta perspectiva de que “qualquer caminho serve”, eu queria perguntar para vocês sobre o futuro. E aí? Com toda essa história que vocês viveram e ainda como integrantes do ICEG, onde vocês almejam que cheguemos? Onde nós, como alunos, como comunidade do ICEG, mas também nós, como futuros alunos que irão entrar no ICEG ESCOLA DE NEGÓCIOS, onde nós poderemos chegar enquanto instituição?

JL - Paulo, é um prazer poder escutar uma pergunta dessas de alguém como você, que eu sei que está começando agora. No meu caso, meu filho, são 53 anos de sala de aula. Eu sou da primeira turma, que entrou no vestibular de 1962. Por isso, eu só posso te dizer de uma certeza que sempre levei comigo e que pode ser exemplificada com apenas uma palavra: Evolução! Eu acredito tremendamente que é possível almejar grandes coisas do futuro. O que nos faz é a evolução. Evolução científica, tecnológica, do conhecimento, em todos os sentidos. Mas é preciso lutar por ela. Como já disse várias vezes e sempre gosto de repetir, as gerações irão se sucedendo e os profissionais terão cada vez mais capacidade, por força das enormes informações tecnológicas que são colocadas à disposição, principalmente dos nossos alunos.

AC - Concordo plenamente com o prof. José Luiz. É uma evolução constante dos nossos cursos. Hoje, com o PUC Carreiras, a universidade tem se voltado muito para o mercado de trabalho, para que o aluno tenha a possibilidade de conseguir um estágio ou mesmo um trabalho através desta plataforma. Então, o ICEG está preocupado com este aspecto também. Não é só trazer o aluno para cá. É principalmente fazer com que esse aluno tenha a possibilidade de se inserir no mercado de trabalho. Além disso, nossos cursos possuem diferenciais capazes de torná-los únicos. O primeiro deles é o foco no humano. O outro é a ênfase que temos procurado dar ao empreendedorismo. Estamos buscando a internacionalização, novas abordagens relevantes para questões econômicas e gerenciais. Tudo isto me garante a certeza de que teremos um futuro muito bonito.

VF - A pandemia rompeu com a falsa sensação de sustentabilidade que o sistema capitalista nos oferecia. A partir do momento em que um vírus mostrou que nossa qualidade de vida é muito mais importante do que qualquer outra coisa, a gente viu que a sociedade de consumo foi colocada em xeque. Então, até que ponto a pandemia contribui com a formação desses estudantes que irão emergir em mercado de trabalho que, hoje, se propõe a novas configurações e a novos objetivos?






JL - Sua pergunta é brilhante, Vítor. E vou respondê-la me lembrando de um curso de técnicas de ensino e de avaliação que foi ministrado pelo professor Naum Weinberg. Ele era um professor muito preocupado com o que vinha pela frente na educação. Em uma de suas aulas, ele disse que, no futuro, nós poderíamos ter, talvez, uma escola sem professores. Usando a imagem da tecnologia, ele cogitou que, um dia, os alunos teriam tudo à sua disposição. Todos esses recursos tecnológicos que hoje nós já conhecemos. Avanços tão grandes que poderiam nos fazer chegar a um ponto em que os professores não seriam mais necessários. Olhando para o que está à nossa volta, penso que toda essa evolução tecnológica vai gerar, sem dúvida, um novo mundo. Mas eu não tenho uma grande preocupação com isso, sabe, Vitor. Porque, no final das contas, eu acredito que nada disso faz sentido sem a mão humana, sem o cérebro humano, sem o desejo humano, sem cada um de nós.

foto5.jpg

Decanos Profª Ângela Cupertino e o Prof. José Luiz Faria
Foto: Edmundo de Novaes Gomes

AC - Nesta pandemia, todos estamos tendo imensas dificuldades. Mas nem a PUC Minas, nem nossos professores e funcionários, e nem mesmo nossos alunos tiveram medo de enfrentá-las. Encaramos tudo de frente e estamos aqui. Alguns, não podemos nunca nos esquecer, marcados para sempre pelo enorme número de mortos e atingidos por este mal terrível e pelos equívocos cometidos na gestão da pandemia. Mas estamos aqui, como disse. Preparando-nos para o futuro e dispostos a enfrentá-lo.

EG - Agora, pata terminar esta entrevista, nós falamos uma palavra e vocês, profª Ângela e prof. José Luiz, respondem com outra. A primeira palavra é ICEG.

AC - Trabalho.

JL - Trabalho. Trabalho também.

PC - Não vale, professor. Tem que ser outra.

JL - Dedicação, então.

PC - Aluno...

AC - Brilhante

JL - Tudo.

VF - Um sentimento...

AC - Alegria.

JL - Gratidão.

EG - Um desejo...

JL - Sucesso.

AC - Inspiração.

PC - Funcionários e professores...

AC - Amizade.

JL - Fundamentais.

VF - PUC Minas...

AC - Uma paixão.

JL - Respeito.

EG - Para terminar, a história do ICEG...

JL - Inspiradora.

AC - Lindíssima!


Selo_Cor-removebg-preview.png
PUC Minas | Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais
Av. Dom José Gaspar, 500 Prédio 14. Coração Eucarístico. Belo Horizonte, Minas Gerais.
iceg.atendimento@pucminas.br (31) 3319-4250 / 3319-4253 / 3319-4255