EG - Mas houve muita dificuldade, não é mesmo?
JL - Claro que sim. No entanto, apesar delas, nossos cursos proliferaram. Nós conquistamos um nome extremamente respeitável na área acadêmica e no próprio mercado. As dificuldades existem para serem vencidas. Veja só o exemplo que estamos dando agora. Estamos com quase dois anos de uma pandemia sem igual em nossa história mais recente. Mas, apesar dela, o ICEG cresceu. Assim, mesmo um problema tão triste não conseguiu tirar nossa confiança, nosso desejo de futuro, de crescer, de vencer desafios. O que você acha, professora Ângela?
Professora Ângela Cupertino (AC) - Eu concordo com tudo o que você disse, José Luiz. A caminhada realizada por nossos cursos dentro e fora da Universidade é extremamente bela. Quando a FAMCE foi encampada pela então Universidade Católica, Administração e Ciências Contábeis eram um curso só. O desmembramento, como conhecemos hoje, só aconteceu em 1984. Em seguida, veio o reconhecimento do mercado, de maneira consistente. Atualmente, se você chega em uma empresa com um diploma do ICEG, você é plenamente reconhecido. Nesse sentido, estudar aqui é uma vantagem competitiva para nosso aluno.
EG - Vantagem competitiva?
AC - Exatamente. Primeiro porque o ICEG ESCOLA DE NEGÓCIOS pertence à PUC Minas. E não é demais dizer que a PUC Minas é uma verdadeira grife da área de ensino. Não há quem não respeite. Mas, além disso, como disse o professor José Luiz, olhamos para o passado e enxergamos o futuro. E sabe por quê? Porque não ficamos parados no tempo. Nossos cursos, embora tragam dentro de si uma tradição inconfundível, são permanentemente atualizados. Nossos projetos representam aquilo que há de melhor no mundo inteiro. Não é à toa que temos lugar de destaque no ranking da revista britânica Times Higher Education por dois anos consecutivos. Então, se um pai, por exemplo, quer investir em seu filho numa carreira gerencial, o que ele irá escolher? Eu não tenho dúvida que a escolha cairá sobre uma instituição que lhe garanta tradição e modernidade ao mesmo tempo. Ou seja: no ICEG.
EG - Como diretora do ICEG durante muito tempo, a senhora sabe o que está dizendo...
AC - E sei mesmo (risos).
EG - Agora vamos voltar para o senhor, Prof. José Luiz. Conte-nos um pouco de sua participação nesse começo do ICEG...
Professor Decano José Luiz Faria
Foto: Edmundo de Novaes Gomes
JL - Antes de mais nada, é preciso lembrar que o IMACO, de onde viemos, era uma simples escola técnica de comércio. Mas uma escola que ganhou projeção internacional, porque seus professores, todos concursados, participaram de inúmeros congressos. Há 60 anos, estes cursos mudaram de patamar, a partir de uma lei que estabeleceu a criação dos cursos superiores dentro de uma escola técnica. Naquele mesmo momento, surgia também a lei de diretrizes bases da educação, a primeira que tivemos, que foi bastante debatida por importantes figuras da educação nacional. Havia uma enorme ansiedade para que tivéssemos outros cursos superiores da área econômica. Daí, surgiu a experiência de um curso integrado, compreendendo as três formações: Ciências Contábeis, Administração e Economia. Então, foi assim que a área gerencial e econômica surgia na Universidade, vinda do IMACO, da FAMCE.
Paulo Gabriel Claro (PC) - O senhor sabe de tudo!
JL - Claro! Eu estava lá. (risos) Mas é importante lembrar que os professores do IMACO, todos eles aprovados em difíceis concursos, eram grandes profissionais em suas várias áreas de atuação. Por causa deste qualificado corpo docente, o IMACO passou a ser considerado uma das melhores escolas de ensino técnico da contabilidade do Brasil.
Se fizermos uma analogia com a questão familiar, veremos que o IMACO foi o pai da FAMCE e a FAMCE foi a mãe do ICEG. Antes de existir o Instituto Municipal de Ciências Contábeis (IMACO), o que havia era a Escola Técnica de Comércio Municipal, criada pela Lei 371, de 1 de fevereiro de 1954, componente do Departamento de Educação e Cultura da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Pela Lei Municipal 0903, de 14 de dezembro de 1961, foi criado o IMACO, uma autarquia municipal que se destinou a ministrar o ensino de Administração e Ciências Contábeis em seus diversos níveis, de acordo com os Decretos Federais 6.141 e 7.988.
Vítor Fiúza (VF) - E a PUC Minas nisso tudo?
JL - PUC Minas, não. Estamos falando de um tempo em que o que existia era a Universidade Católica de Minas Gerais, a UCMG. Mas eu entendi o que você quis dizer. Na verdade, em função daqueles difíceis concursos da Prefeitura de Belo Horizonte, nós já éramos professores e, assim, viemos para cá. Fomos acolhidos como professores titulares e isto foi resultado do decreto e da lei que foi aprovada, na época, na Câmara Municipal de Belo Horizonte, sancionada pelo prefeito e depois incorporada à Universidade Católica. Fomos recebidos pelo grão-chanceler Dom João Rezende Costa e pelo reitor Dom Serafim Fernandes de Araújo e, rapidamente, nos integramos ao regimento e ao estatuto da Universidade. Vale recordar que fomos, neste início, inquilinos de vários prédios que eram ligados à UCMG, tais como os do Colégio Santa Maria, na Floresta, e do Colégio Sagrado Coração de Maria, na Serra. Quando finalmente chegamos ao campus do Coração Eucarístico, fomos instalados no prédio da Faculdade Mineira de Direito.
AC - Exatamente. Até que o prédio 14 foi construído e recebeu os três cursos, onde estamos até hoje.
EG - Quando foi isso?
AC - Em 1972. Ou seja: a competência da PUC Minas é antiga. A FAMCE veio pra Universidade Católica em 1971 e, um anos depois, já estávamos ocupando um grande edifício só nosso.
JL - Nós viemos em 71, não é mesmo, professora? Quando ainda era a Faculdade de Ciências Econômicas. Então, cada curso tinha sua coordenação. Me lembro bem! Dom Serafim não pôde comparecer à cerimônia. Assim, quem veio foi nada menos que Dom João Rezende Costa. Com o bom humor que lhe era característico, Dom João disse que nós éramos a nova face da Católica. Mas eu vim antes dessa inauguração. E sou testemunha de que o trabalho que já havia sido muito bem-avaliado pelo Conselho Estadual de Educação foi acolhido e reconhecido pela UCMG. A mudança, além de significar o crescimento do número de vagas para a educação superior gerencial e econômica, trouxe também para o curso a tão valiosa autonomia universitária. Pertencíamos, agora, a uma grande universidade! Estávamos todos muito orgulhosos disto.
Criar cursos integrados foi o grande diferencial da UCMG. Economistas, administradores e contadores poderiam ser formados em um mesmo processo. Em Minas Gerais, pelo menos, nenhuma instituição de ensino havia tido essa ideia. Mas nem tudo foi fácil, como acontece com todas as ideias que trazem em si a semente da ousadia. Os cursos já estavam em pleno funcionamento, entretanto, os diplomas não eram reconhecidos. Para que isso acontecesse, foi necessário um acordo com o ministro da Educação e com o presidente militar da época.
Professora Ângela Cupertino
Foto: Edmundo de Novaes Gomes
EG - Profª Ângela, e a senhora? Como foi sua entrada na universidade? Acho que não é exagero dizer que você cresceu junto com o ICEG, não é mesmo?
AC - Crescer, não (risos). Mas eu acompanhei, vamos dizer assim. Eu entrei como aluna, fiz vestibular em 1967. De 1967 até 1972, como estudante. Eu fiz os seis anos. Com quatro, me formei em Contábeis. No quinto, fiz administração e, no sexto, economia. Já em 1973, apenas seis meses depois de formada, o prof. José de Almeida me convidou para fazer uma substituição. Creio que ele estava como diretor ou coordenador, não me lembro o cargo, mas era responsável pelos três cursos do ICEG que, naquela época, não se chamava ICEG, como você já sabe.
VF - Nossa! Que coisa bacana. Seis meses depois de formada e já começava a dar aulas... Como foi isso?
AC - Ele fez um convite para eu começar a lecionar. Naquela época, a graduação bastava para você ser professor Não é como hoje, que você precisa de mestrado e doutorado. Cursos de especialização sequer existiam! Então, mais ou menos em setembro de 1973, eu entrei fazendo a substituição de um professor. A disciplina era Economia Empresarial, se não me engano. Na época, eu trabalhava também em uma empresa como técnica em contabilidade. Mas assumi a disciplina e, depois, de 73 para frente, na medida em que foram surgindo oportunidades para lecionar contabilidade, eu assumi disciplinas desta área. Matérias que possuíam o mesmo conteúdo com o qual eu estava mais acostumada em meu dia a dia de trabalho.
EG - E como a senhora entrou na área administrativa da Universidade?
AC - Acho que fiquei como apenas professora até 1980. Depois, assumi três mandatos da coordenação do curso de Ciências Contábeis. Você, José Luiz, estava junto com a gente...
JL - Sempre estive (risos).
AC - O convite partiu do prof. Gamaliel Herval, que era o reitor nessa época. Neste mesmo momento, por influência dele, os cursos passaram a ser independentes. Havia ainda alguma integração, mas eram separados.
EG - E a Pró-reitoria?
AC - Aí foi um convite do Pe. Magela, que aconteceu em 1990. Ele me chamou para comandar a Pró-reitoria de Execução Administrativa. A Proead reunia a parte pessoal e financeira. É bom lembrar que, até o início de 1990, a PUC Minas – já era PUC Minas! – não possuía nenhuma outra unidade fora do Coração Eucarístico. Em meados de 1990, inauguramos o curso de Ciências Contábeis, em Contagem. Fiquei na Pró-reitoria até o ano de 2000, quando recebi o convite para vir para cá e fiquei até fevereiro de 2020. Então, foi esta a minha caminhada.
Para situar o relato da profª Ângela Cupertino e do prof. José Luiz Faria, vale lembrar que a UCMG foi fundada por Dom Cabral em 1958, portanto, 13 anos antes da criação do ICEG. O primeiro reitor da Universidade foi o padre José Lourenço da Costa Aguiar. Depois dele, vieram Dom Serafim Fernandes de Araújo, o prof. Gamaliel Herval, os padres Lázaro Assis Pinto e Geraldo Magela Teixeira, e o prof. Eustáquio Afonso Araújo. Hoje, a PUC Minas é comandada pelo prof. Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães. No que se refere ao ICEG, os diretores foram três, uma vez que o Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais da PUC Minas foi criado apenas em 1998. Assim, o prof. Paulo Sérgio Martins Alves esteve à frente do ICEG entre 1998 e 2001. Em seguida, assumiu a profª Ângela Maria Marques Cupertino. Ela ficou até 2020, quando a direção foi entregue ao prof. José Chequer Neto.