"Os desafios enfrentados pelas mulheres, na verdade, antecedem o seu ingresso no mercado de trabalho e é fato que, de maneira geral, todas nós somos atravessadas de alguma maneira por um papel social que nos foi imposto". A consideração feita pelas professoras Sabrina Mendes e Letícia Lins*, do curso de Comunicação, Diversidade e Inclusão nas Organizações, revela que a luta das mulheres pela equidade em direitos e oportunidades é longa. Muitas conquistas foram alcançadas nos últimos anos, e a expectativa é de um cenário mais próximo do ideal no futuro.
A dupla de docentes da PUC Minas ainda alerta para a necessidade da implementação de medidas que possam contribuir para que as mulheres tenham mais espaço no mercado de trabalho: "Se uma empresa sequer conta com um percentual representativo de mulheres no seu quadro, neste caso, estratégias como a abertura de vagas afirmativas, definição de metas vinculadas ao bônus dos gestores e criação de programas de formação para mulheres da comunidade, podem ser alguns caminhos. Já empresas que já atravessaram este estágio inicial, podem concentrar seus esforços em promover ações para a inclusão de mais mulheres nos cargos de liderança, por exemplo, além do desenvolvimento de estratégias estruturais, como revisão de políticas de benefícios, tendo em vista as necessidades específicas do público feminino".
Sabrina e Letícia lembram que países com maior paridade de gênero também são os que possuem maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e enfatizam: "Não é por acaso que a igualdade de gênero é transversal a todos os ODS - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - propostos pela ONU, e além disso temos também o ODS 5, que diz respeito especificamente à igualdade de gênero, pois este é um dos pilares para a construção de uma sociedade livre". Por consequência da mensuração desses índices em importantes organizações, a presença feminina no mercado de trabalho tende a crescer, bem como o debate acerca do tema. É possível observar, inclusive, a participação mais ativa dos homens na divisão dos afazeres domésticos, que contribuem para a disponibilidade e desempenho das mulheres na vida profissional.
Hoje, a maioria dos domicílios no Brasil é chefiada por mulheres. Dos 75 milhões de lares, 50,8% tem liderança feminina, o correspondente a 38,1 milhões de famílias. Dessas, 56,5% são negras. A estatística é mencionada por Maria da Consolação** de Castro, professora do curso de Cidadania e Direitos Humanos no Contexto das Políticas Públicas, que destaca: "as mulheres enfrentam muitos desafios, muitas batalhas, como várias jornadas (trabalhar, estudar, cuidar da família e de si), além de ter que aprender a lidar com os assédios, a desigualdade de salários e de cargos e a garantia de seus direitos".
Jornalista e ex-aluna do curso de Comunicação, Diversidade e Inclusão nas Organizações, Tatiana Lagôa***, é um exemplo de mulher que conquistou o seu espaço no mercado de trabalho e ocupa um cargo de liderança. Atuando em um veículo de comunicação mineiro, a jornalista, mãe e negra, chama a atenção para a necessidade de combater o preconceito contra o sexo feminino no meio corporativo: "Precisamos questionar e desconstruir a discriminação enraizada na sociedade e lutar para que o cenário de abertura do mercado seja amplo e contemple todas as mulheres, e não apenas brancas e de condições socioeconômicas mais favoráveis". A posição de líder de Tatiana é enaltecida pelas professoras Sabrina e Letícia: "A presença de mulheres em cargos de liderança se traduz em incentivo direto para outras mulheres ascenderem a tais posições e na construção de ambientes mais inclusivos. Esse é o poder da representatividade".
O papel da educação
Maria da Consolação acredita que a educação exerce um papel fundamental na construção de um mercado mais igualitário. "A capacitação técnica, somada a atributos como mediação de conflitos, adaptabilidade e sensibilidade, têm popularizado a liderança feminina atualmente. Investir em si mesma é uma estratégia e tanto para superar esses desafios sociais impostos na presença feminina no mercado de trabalho", comenta a professora. Sabrina Mendes e Letícia Lins complementam o raciocínio: "A educação é um pilar, não só pelo seu caráter profissionalizante, que contribui para o acesso da mulher ao mercado, mas por ser também um instrumento de construção de pensamento crítico para homens e mulheres, sobre as desigualdades na nossa sociedade".
* Confira o artigo de opinião das professoras Sabrina Mendes e Letícia Lins na seção Opinião.
** Confira a matéria completa com as palavras da Profa. Maria da Consolação na seção Fala, Professor.
*** Confira a história completa de Tatiana Lagôa na seção Em Dia com o Mercado.