O isolamento social é a estratégia mais eficaz para conter a disseminação do coronavírus. No entanto, essa medida impôs mudanças radicais na rotina das pessoas. Com toda a sensação de insegurança provocada pela pandemia, além do tempo ocioso em casa, a comida se tornou, para muitas pessoas, uma válvula de escape para a ansiedade. Sobretudo, os doces.
É o que aponta a pesquisa desenvolvida pelos alunos do Curso de Nutrição da PUC Minas que investigou o comportamento alimentar da população da Região Metropolitana de Belo Horizonte durante a quarentena. Dados revelam que 52,9% dos entrevistados aumentou o consumo de doces, 46,9% estão comendo mais quitandas e 26,5% aumentaram o consumo de bebidas alcóolicas durante a quarentena. A pesquisa também detectou que 89,2 % dos cidadãos sentem que a pandemia impactou com alguma intensidade a sua saúde física e mental, como reflexo, 45,9% sentem pouco dispostos para executar as tarefas do dia.
Mas o que a alimentação, mais precisamente, o consumo de doces tem a ver com equilíbrio emocional? A explicação está no cortisol, conhecido como o hormônio do estresse. Produzido pelas glândulas supra renais ele possui várias funções no organismo, dentre elas, controlar os níveis de açúcar. "Com o cortisol desregulado, o corpo busca energia em alimentos que proporcionem bem-estar e alguns estudos sugerem que o açúcar reduz o nível de cortisol, por essa razão, a busca por esse tipo de alimento", explica a nutricionista Carina Rezende Rodrigues, funcionária do Ambulatório de Nutrição na Unidade Barreiro. "Podemos citar também, a dopamina. Ela é um neurotransmissor que controla as nossas emoções e o apetite. Nesse caso, o açúcar interage no cérebro com neuropeptídios como essa dopamina, oferecendo também a sensação de bem estar', completa.
Além da influência sobre o humor e o bem-estar, o açúcar é a forma mais rápida de fornecer energia ao corpo humano, é essencial para o funcionamento do cérebro e auxilia na proliferação de bio-bactérias e lactobacilos, componentes que melhoram a digestão e fortalecem o sistema imunológico. Somado aos benefícios à saúde, o sabor agrada. Quem não gosta de uma sobremesa, não é mesmo? No entanto, o seu consumo em excesso pode trazer consequências para a saúde, como obesidade, diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, disbiose intestinal (desequilíbrio bacteriano e funcional do intestino), entre outras enfermidades.
O segredo, então, é o consumo com moderação. "Não existe um alimento ruim, existe o alimento que é administrado de forma errada", alerta Carina. De acordo com a nutricionista, a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou recentemente uma nova diretriz sobre consumo de açúcares para adultos e crianças que não deve passar de 50 gramas por dia, o que equivale a quatro ou cinco colheres de sopa. "Lembrando que essa quantidade vai depender de cada organismo e de cada pessoa, além de um quadro clínico, se ela tem uma patologia ou não", pondera.
Para saciar a vontade de comer alimentos doces e gostosos, tão necessários para o conforto emocional nesses momentos de estresse, Carina sugere alternativas, como substituir o açúcar branco por variações mais saudáveis, como o mascavo, demerara e açúcar de coco. Frutas desidratadas e tâmaras também são boas opções para adoçar o paladar. Ela ainda oferece dicas para se alimentar de forma equilibrada. "Faça o planejamento das refeições. Isso previne o consumo de alimentos industrializados. Procure consumir alimentos que reforçam a imunidade e que aumentam a serotonina", aconselha.
Confira a lista desses alimentos:
Alimentos que reforçam a imunidade: carne vermelha magra, frango, semente de abobora e gergelim (zinco), castanha-do-Pará, ovo, sementes de girassol, fígado bovino, peixes e peito de frango (selênio) , gema de ovo, leite, fígado de boi, frutas e legumes amarelos e alaranjados e vegetais verde-escuros (vitamina A), banana, peixes como salmão, frango, camarão e avelãs (vitamina B6), laranja, limão, acerola, abacaxi, goiaba, agrião, escarola, brócolis, tomate e espinafre (vitamina C), óleos vegetais, sementes de girassol, amêndoas, nozes, abacate, manga, abóbora e brócolis (vitamina E) .
Alimentos que aumentam a serotonina: banana, abacate, mamão, aveia, centeio, cacau, leite e iogurtes desnatados, castanha do Pará, nozes e amêndoas, ovos, carnes magras e peixes, folhas verdes e soja.