O isolamento social imposto pela pandemia revelou também a necessidade de alterar nossas rotinas, deixando para depois tudo o que não é urgente. Mas, ainda que o contexto atual exija outras prioridades, existe algo que é inegociável: o cuidado com a saúde. O medo de se contaminar com o coronavírus afastou as mulheres das consultas ginecológicas periódicas. De acordo com a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), houve redução de 23,4% na realização de mamografias e biópsias de colo uterino no último ano. Dado que preocupa, já que o câncer de mama é a neoplasia maligna mais incidente em mulheres no mundo, com aproximadamente 2,3 milhões de casos novos estimados em 2020. Isso representa 24,5% dos casos novos por câncer em mulheres, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
O Outubro Rosa acende o alerta para essa causa. O movimento foi criado no início da década de 1990 pela Fundação Susan G. Komen for the Cure, que realizou a primeira Corrida pela Cura. E aqui vai uma curiosidade: na ocasião, foram distribuídos entre os corredores laços cor de rosa, que acabaram se tornando o símbolo da campanha em todo o mundo. Desde então, a data é celebrada anualmente, com o objetivo de compartilhar informações e promover a conscientização sobre a doença, além de proporcionar maior acesso aos serviços de diagnóstico e de tratamento. A campanha também estimula o autoexame das mamas, que pode ser imprescindível para um diagnóstico precoce, o que possibilita em 95% as chances de cura.
Nesse sentido, o primeiro fator preventivo é o autocuidado. "É importante que a mulher conheça todos os sinais que seu corpo apresenta", afirma a professora Délcia Barbosa de Vasconcelos Adami, do Curso de Fisioterapia do Campus Poços de Caldas. A docente tem experiência em reabilitação pós-cirúrgica de pacientes com câncer de mama, além de atuar em estágio obrigatório do Curso na área de Saúde da Mulher. Para ela, é fundamental que o autoexame seja um hábito contínuo. "A percepção de um nódulo ou um toque diferente no corpo passa pela percepção corporal. Hoje, estamos abordando muito com a mulher para que ela se conheça, tenha cuidado e conhecimento do próprio corpo".
Além dos nódulos nas mamas, é preciso estar aleta ao surgimento de outros sintomas que também podem indicar a neoplasia, como pele da mama avermelhada, retração das mamas, alterações no mamilo, saída espontânea de líquido dos mamilos e nódulos axilares ou na região do pescoço.
Além do autoexame, é fundamental a realização de exames periódicos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que mulheres entre 50 e 69 anos façam mamografia de rastreamento a cada dois anos. Esse exame pode ajudar a identificar a doença ainda que não existam sintomas visíveis.
Em caso de confirmação da doença, Délcia considera três fatores fundamentais para o sucesso no tratamento: diagnóstico precoce, tratamento adequado e adesão do paciente. "Um ponto para o qual chamo muita atenção é a conscientização do paciente, ver se ele está disposto a seguir as condutas e direcionar o tratamento. Nós vemos uma melhora muito grande quando o paciente é protagonista do seu tratamento e o encara com seguridade e com confiança", afirma, ao fazer uma ressalva de que há casos específicos e cenários mais delicados, mas, de forma geral, a adesão traz resultados muito favoráveis.
Cuidado multiprofissional
Para a professora, também é importante pensar no cuidado multiprofissional, envolvendo saúde física e mental. Ela ressalta que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece práticas integrativas complementares que auxiliam o tratamento e colaboram para o bem-estar do paciente, como psicoterapia, acupuntura, yoga e práticas específicas de atividades físicas, entre outras. Ela também ressalta a importância da criação de uma rede de apoio composta por equipe médica, família e amigos. "É muito importante que o acolhimento esteja presente neste processo", afirma.
Mas, mais importante que remediar, é prevenir. De acordo com o Inca, cerca de 30% dos casos poderiam ser evitados com a adoção de hábitos que favorecessem a saúde e a qualidade de vida, como a prática de atividade física e alimentação saudável. Além do autoexame, consultas de rotina e exames regulares, a professora lista outros fatores contribuem para a prevenção da doença e manutenção da saúde como um todo: manter o peso corporal adequado, evitando quadros como obesidade, sobrepeso e sedentarismo; evitar o consumo de bebidas alcoólicas e o tabagismo; evitar a exposição frequente à radiação; controle e acompanhamento de fatores hereditários, relacionados à genética; e atenção a questões hormonais relacionadas, por exemplo, ao uso de contraceptivos.
Por isso, não deixe os cuidados com a sua saúde e bem-estar para depois. A prevenção é fundamental para que a Medicina faça a sua parte.