Fios e mais fios de cabelo na escova, no ralo do banheiro, no chão ou na roupa. Para muita gente, essa sensação pode causar certa aflição, mas, você sabia que é normal que uma pessoa adulta perca de 70 a cem fios de cabelo por dia? No couro cabeludo do ser humano existem, em média, cem mil folículos pilosos, que crescem, em média, 0,3 mm por dia e que passam por fases de crescimento, repouso e desprendimento. "São essas fases, que duram, em média, de três a seis anos, duas semanas e três meses, respectivamente, que ocasionam essa queda diária", explica a dermatologista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia e professora do Curso de Medicina da PUC Minas, Maria Júlia Lara.
Entretanto, para além dessa queda natural da própria renovação capilar, diversos fatores podem ocasionar o aumento da perda de fios, o que pode tornar essa questão um caso clínico. Mas, a partir de qual momento a queda de cabelos deve ser considerada preocupante? "Para responder a essa pergunta vale pontuar que a queda de cabelo pode ser difusa ou circunscrita, além de cicatricial ou não cicatricial. Entendendo que há essa diversidade clínica entre os diferentes tipos de queda de cabelo, independentemente se a queda é circunscrita a pequeno diâmetro, com ou sem cicatriz, ou difusa, abrangendo grande porcentagem do couro cabeludo, ela deverá ser considerada e avaliada por um profissional capacitado para um diagnóstico preciso", alerta a dermatologista.
Segundo ela, a causa mais comum de queda capilar recebe o nome de eflúvio telógeno. Essa condição, que ocasiona queda de 120 a 400 fios por dia, pode ser aguda ou crônica. O quadro agudo tem duração de até seis meses e é provocado por estresse físico – Covid-19, dengue, cirurgia ou parto, entre outros – ou psíquico. Já o quadro crônico tem duração superior a um semestre e pode ser primário ou secundário. A forma primária é considerada idiopática, ou seja, sem causa conhecida, e costuma acometer mulheres entre 30 e 60 anos. Já a secundária associa-se, em geral, a doenças crônicas como hipotireoidismo, hipertireoidismo, diabetes, insuficiência ou deficiência de vitamina D, zinco, ferro e taxas de ferritina inferiores a 70mg/L.
Outra queda de cabelo muito comum é a alopecia androgenética, a famosa calvície, que acomete principalmente homens. Sua prevalência não está totalmente estabelecida, mas sabe-se que o seu surgimento está relacionado com a idade, o sexo e a etnia, acometendo em menor grau negros e asiáticos. "Estima-se que aproximadamente 62% dos homens brancos entre 20 e 40 anos de idade apresentem rarefações nas regiões frontais do couro cabeludo e mais de 80% dos homens brancos mostrem sinais desse tipo de queda por volta dos 70 anos. Essa queda tem início em qualquer idade a partir da adolescência, apresentando dois picos de incidência: um próximo à segunda e outro próximo à quinta década de vida", afirma a professora, que ressalta que a alopecia androgenética depende de várias condições, incluindo predisposição genética e fatores hormonais. "Do ponto de vista hormonal, acredita-se que os hormônios e receptores androgênios promovam a transformação de folículos grossos em folículos finos", explica.
De acordo com a dermatologista, durante a pandemia foi observado um grande aumento das queixas relacionadas às quedas de cabelo por questões psíquicas ou físicas, levando a quadros de eflúvio telógeno, e também àquelas quedas de componente genético, autoimune ou autoinflamatório, nas quais as doenças psíquicas adquiridas durante o período de isolamento social funcionaram como gatilhos para seu surgimento.
A boa notícia para quem sofre com a queda capilar é que há tratamento para os dois tipos. "O prognóstico para o eflúvio telógeno agudo é muito bom, com recuperação espontânea em 95% dos casos em até 12 meses. Já para o eflúvio telógeno crônico é muito importante a investigação das prováveis causas secundárias para um tratamento eficaz da doença de base, a provável causadora da injúria para esse pelo. Para o tratamento da alopécia androgenética, existem tratamentos com tópicos e/ou orais de grande eficácia, além da possibilidade cirúrgica", indica Maria Júlia, observando que a escolha do tratamento é avaliada caso a caso a depender do tempo de início, extensão e expectativa do paciente, além de outras características individuais.
E, como diz o ditado, melhor que remediar, é prevenir, não é mesmo? No caso da queda capilar, é possível evitar aquelas que não são relacionadas diretamente à predisposição genética: doenças autoimunes e autoinflamatórias. O segredo é levar um estilo de vida saudável, como sono e alimentação adequados, ingestão ideal de água, prática regular de atividade física e avaliação médica para a prevenção de agravos de saúde.
Outro cuidado muito importante é com a saúde mental, já que estresse e ansiedade podem acentuar a queda capilar. "Tem um trecho de uma música do compositor Zeca Baleiro que retrata bem a veracidade dessa causa e efeito: ando tão à flor da pele. E sabe por qual motivo? A pele e o sistema nervoso têm a mesma origem embrionária, portanto, emocional e pele andam de 'mãos dadas'", explica a professora Maria Júlia.