No dia 25 de abril aconteceu a 93ª edição da maior festa da sétima arte: o Oscar. Com a pandemia, muitos filmes indicados à premiação tiveram sua exibição reduzida ou, até mesmo, cancelada. Mas, se não podemos ir ao cinema, o cinema vem até nós. Vários filmes que ganharam a famosa estatueta estão disponíveis nas plataformas de streaming. Convidamos Vitor Bedeti, professor do Curso de Cinema da PUC Minas, para comentar sobre alguns vencedores. Aproveite as dicas do especialista, pegue o controle da TV, a pipoca, acomode-se no sofá e divirta-se com uma sessão de cinema em casa.
A Voz Suprema do Blues
O vencedor de Melhor Figurino e Melhor Maquiagem foi indicado em cinco categorias. A Voz Suprema do Blues se passa na Chicago de 1927. Uma sessão de gravação do álbum de Ma Rainey (Viola Davis) é mergulhada em tensão entre seu ambicioso trompista Levee (Chadwick Boseman) e a gerência branca que está determinada a controlar a incontrolável "Mãe do Blues".
O professor Vitor Bedeti destaca a atuação de Chadwik Boseman e Viola Davis, o que ele definiu como "um elenco poderosíssimo!". O especialista afirma que este é um daqueles filmes para se assistir várias vezes e convidar todo mundo para assistir também. "É um filme muito importante, com atravessamentos políticos, sobre culpa e sobre diversidade. Tem atos e cenas maravilhosas, enquadramentos, uma fotografia saturada e quente, que tem tudo a ver com a Ma Rainey, que é essa personagem com calor e intensidade. É um mergulho em uma biografia negra importantíssima na história da música, sobretudo, no blues".
Disponível em: Netflix.
Mank
Indicado em dez categorias, Mank levou as estatuetas – de Melhor Fotografia e Melhor Direção de Arte – e conta a história de Herman J. Mankiewicz, roteirista da obra-prima icônica de Orson Welles, Cidadão Kane, e sua luta contra Welles pelo crédito do texto do grandioso longa.
"Mank é um convite à plasticidade estética. Tem uma direção de arte e uma cenografia cheia de sentidos, com toda a semiótica operando um fortalecimento da narrativa da história e servindo também como uma potência para essa história. As curvas e intensidades do roteiro também se destacam. É uma cama para o nosso olhar se deitar e mergulhar também nessa narrativa. É incrível!", analisa Vitor.
Disponível em: Netflix.
Meu Pai
O filme que rendeu a Anthony Hopkins a estatueta de melhor ator conta a história de um homem de 81 anos de idade que mora sozinho em seu apartamento em Londres. À medida que seu envelhecimento avança, ele precisa de ajuda para se cuidar. Quanto mais ele nega o apoio de sua filha, mais ele entra em questões sobre a sua vida e sobre a sua condição. O filme também venceu a categoria de Melhor Roteiro Adaptado.
"O filme Meu Pai tem uma proposta dinâmica. Sua narrativa nos convida a ter sensações similares ao que o personagem vivencia. A cadência dos acontecimentos, a montagem, o comportamento das personagens e o jogo de cena fazem com que a gente entre na história, mas, ao mesmo tempo se perca nessa confusão entre memória, acontecimento e registro. Então, o filme traz um convite a essa experiência da demência e provoca uma experiência quase que sinestésica no espectador", opina o professor Vitor Bedeti.
Disponível em: Apple TV, Google Play, Now e YouTube.
O Som do Silêncio
Indicado a seis categorias, o vencedor de Melhor Montagem conta a história de um jovem baterista que vê sua vida mudar totalmente quando percebe que está perdendo a audição e colocando em jogo suas duas paixões: a música e a sua namorada, integrante da mesma banda da qual ele faz parte.
"O Som do Silêncio é uma provocação às possibilidades, às perspectivas sonoras. A sensação que eu tenho é que ele faz excluir o som natural, o som ambiente, por conta da surdez, mas faz ecoar outras possibilidades de sons entre a realidade e a ficção. É um pouco do que esse personagem experimenta no ofício da música", comenta o professor.
Disponível em: Amazon Prime Video e Now
Soul
Joe é um professor de música do ensino médio apaixonado por jazz, cuja vida não foi como ele esperava. Quando ele viaja a outra realidade para ajudar uma pessoa a encontrar sua paixão, ele descobre o verdadeiro sentido da vida. Essa é a premissa de Soul, animação da Pixar vencedora das categorias de Melhor Filme de Animação e Melhor Trilha Sonora Original.
Vitor Beteti destaca a sua representatividade. "É meio absurdo dizer isso, porque não deveria ser assim, mas é o primeiro filme da Pixar com um protagonista negro. Esse acontecimento é um divisor de águas na era da animação", opina o professor.
Disponível em: Disney+
Judas e o Messias Negro
Oferecido um acordo judicial pelo FBI, William O'Neal se infiltra nos Illinois dos Panteras Negras para reunir informações sobre o presidente Fred Hampton. Esse é o enredo do filme favorito do professor Vitor Bedeti, que foi indicado em cinco categorias e levou a estatueta de Melhor Ator Coadjuvante.
"É um filme que diz que todo corpo negro é revolucionário em uma sociedade racista. Esse filme é uma revolução. Tudo nesse filme traz uma potência e uma força para o corpo negro que assiste, seja na dimensão da linguagem cinematográfica, da experiência de elenco, da experiência de arte, de fotografia, de produção; seja também no enredo político, com atravessamento social, com uma provocação muito importante. É o filme mais poderoso da lista, sem sombra de dúvidas".
O filme não está disponível nas plataformas de streaming, mas está em cartaz nos cinemas.
Nomadland
Assim como o filme favorito do nosso comentarista, o professor Vitor Bedeti, o vencedor da categoria de Melhor Filme ainda não está disponível em plataformas de streaming, mas como deixar a grande estrela da 93ª edição do Oscar fora dessa lista de indicações? O filme ainda levou as estatuetas de Melhor Atriz e Melhor diretor, e concorreu a outras três categorias. Nomadland conta a história de uma mulher na casa dos 60 anos que, depois de perder tudo na Grande Recessão, embarca em uma viagem pelo Oeste americano, vivendo como uma nômade moderna.
Vitor Bedeti destaca o trabalho da diretora premiada, a chinesa Chloé Zhao, que imprimiu no filme o olhar sobre a América que as pessoas não estão acostumadas a ver. "Tem uma certa fluidez na narrativa que me parece ser característico de filmes que contam sobre o tempo e sobre a vida", observa. Uma curiosidade sobre o filme, segundo o professor, é seu orçamento, considerado baixíssimo se comparado às grandes produções cinematográficas hollywoodianas: cerca de US$5 milhões.
Em cartaz nos cinemas; não disponível nos serviços de streaming.
Outros filmes vencedores que estão disponíveis em plataformas de streaming:
Colette - YouTube
Druk - Mais uma rodada - YouTube, Now, Apple TV e Google Play
Professor Polvo - Netflix
Tenet - YouTube, Now, Apple TV e Google Play
Outros filmes indicados, mas que não ganharam, também estão disponíveis. Alguns deles:
Borat - Amazon Prime Video
Era uma vez um sonho - Netflix
Mulan - Disney+
O tigre branco - Netflix
Os 7 de Chicago - Netflix
Uma noite em Miami - Amazon Prime Video