Dizem por aí que gentileza gera gentileza. A ação de caráter nobre, distinto e amável perante o próximo é tão importante que ganhou até uma data que é mundialmente comemorada. O Dia Mundial da Gentileza, celebrado em 13 de novembro, surgiu em uma conferência realizada em Tóquio, em 1996, pelo World Kindness Movement (Movimento Mundial da Gentileza, em tradução livre), com o objetivo de estimular as pessoas a incluírem as práticas empáticas em suas rotinas. Sobretudo em um contexto pandêmico, desafiador em diversos aspectos, esse comportamento nunca se fez tão necessário como agora.
Pequenos gestos como um abraço, um sorriso ou uma palavra podem melhorar o dia de alguém que esteja precisando de um afago. Mas, se engana quem pensa que este benefício é unilateral. Ser gentil faz bem não apenas ao outro, mas gera também bem-estar em quem o pratica. É o que afirma Danúbia Godinho Zanetti, professora da Faculdade de Psicologia da PUC Minas. "Um sorriso acolhedor, um abraço carinhoso e palavras de conforto são promotores de qualidade de vida, pertencimento social, coletivo e comunitário, além de trazer efeitos importantes para o autorreconhecimento, autoimagem e autoestima", sintetiza.
Se gentileza gera gentileza, como em uma corrente do bem, os seus benefícios se espalham. Fazer bem ao outro, faz bem a mim. E essa troca mútua faz bem à sociedade de modo geral. A prática não se limita à esfera individual, é uma pauta coletiva. "A gentileza produz vínculos e laços sociais fortalecidos, que são importantes para a construção de uma sociedade mais harmônica, mais justa e mais equânime, o que é fundamental para as quebras de paradigmas, estereótipos e preconceitos que permitem a construção de um novo projeto de sociedade, capaz de combater as desigualdades sociais e propiciar encontros mais alegres e mais potentes", afirma.
Pandemia gera empatia
Essa potência tem sido percebida com mais evidência durante a pandemia. Há quase dois anos, o mundo enfrenta a Covid-19 e também suas consequências em diversos aspectos – sociais, econômicos, emocionais, entre outros. A expressão "quase ninguém está bem", infelizmente, tornou-se comum e, por isso, ser gentil com as pessoas nunca foi tão importante como agora. "Guardadas as devidas proporções de outros momentos históricos e pandêmicos, podemos, sim, afirmar que a gentileza na pandemia da Covid-19 tem auxiliado no processo de elaboração de vários lutos, na reconstrução de novos sentidos para o novo normal, para a retomada das atividades cotidianas e para a reconstrução de novos laços e vínculos sociais. Vivenciamos um processo de reinvenção da vida. A prática da gentileza, torna o processo menos árduo e mais humanizado", afirma Danúbia, que destaca que sentir-se apoiado e amparado faz a diferença na retomada de histórias, projetos de vida e para ampliação de direitos sociais. "No contexto da pandemia esse fenômeno ficou mais claro".
Segundo a psicóloga, gentileza e empatia são conceitos que estão interligados. "Ser empático possibilita a construção de vínculos fortes, éticos e comprometidos com todas as formas de vidas. Ao conhecer meus limites e possibilidades me permito estar com o outro de maneira mais solidária e mais compreensiva, sem me perder e sem me diminuir como pessoa. Ambos crescem e se respeitam nas semelhanças e nas diferenças. A empatia proporciona relações mais saudáveis", opina.
Gentileza gera bem-estar
De modo geral é possível dizer que bem-estar está ligado à saúde física, mental, emocional e social do indivíduo. Nesse sentido, a sensação de bem-estar associa-se à percepção de que o indivíduo tem das suas próprias condições em cada um desses aspectos. A professora Rebecca de Magalhães Monteiro Lopes, também da Faculdade de Psicologia, destaca que há uma corrente teórica relativamente nova e que tem como foco principal a pesquisa de emoções positivas, com especial ênfase nas forças e potencialidades humanas: a Psicologia Positiva. "De acordo com essa abordagem, o bem-estar subjetivo pode ser definido como uma avaliação que o sujeito faz da sua própria vida em que se contabiliza mais as experiências positivas enfrentadas por ele do que as negativas. Em outras palavras, seria a maneira como eu percebo as minhas realizações e conquistas, no sentido de ter satisfação com a minha vida".
E no que isso se relaciona à gentileza? "Ser gentil é uma das características relacionadas às habilidades sociais e que contribui positivamente para uma melhor interação social. Vale frisar que o ser humano é um ser social e a socialização produz bem-estar", explica Rebecca. Por isso, pertencer a um grupo, encontrar com os amigos ou ter uma boa convivência social ajuda a desenvolver mais as competências de relacionamento interpessoal tão fundamentais para a vida em sociedade. "E essa boa convivência social pode contribuir também para um maior controle das emoções, um dos fatores de proteção para a saúde física", completa.
E a gratidão pode ser um catalisador desse bem-estar. "Quando nos relacionamos com pessoas gentis nos sentimos agradecidos, pois percebemos que aquela pessoa fez uma boa ação e somos capazes de reconhecer isso, por isso o que sentimos na verdade é gratidão. A gentiliza e a gratidão, portanto, proporciona uma sensação de bem-estar visto que queremos retribuir aquela gentiliza, existe uma troca positiva na relação estabelecida e isso facilita mais uma vez o convívio social tão importante para o ser humano", explica Rebecca.
Via de mão dupla
Se boas atitudes resultam em boas atitudes, o inverso também acontece. Se mudarmos o ditado, 'grosseria gera grosseria'. Quem nunca foi alvo de uma atitude ríspida e, conscientemente ou não, acabou descontando em outra pessoa, sendo ríspido também? De acordo com Rebecca, a tendência de reagir a uma ação de forma semelhante. Por isso, ela destaca que a prática de boas ações são fundamentais para alcançar sucesso nas relações sociais. "Não estou dizendo que não podemos manifestar nossa raiva ou indignação perante determinadas situações, mas a maneira como agimos e nos colocamos nessas situações pode definir o resultado final. Ou seja, as pessoas tendem a ser mais receptivas e ajudam aqueles que buscam interagir de forma mais gentil ou com respeito". Por isso, a regra é básica: trate as pessoas como gostaria de ter tratado.
E aí? Já foi gentil com alguém hoje?