Imagine só: após uma rotina exaustiva no trabalho, no trânsito e em casa, você percebe, despretensiosamente, um ponto alto no seu dia: o jantar já está pronto, ou a louça já está limpa ou até mesmo aquela compra que você havia feito online finalmente foi entregue. Mesmo intimamente, você agradece e se sente melhor. Soa familiar? É que você experimentou a força da gratidão.
Tendo origem no latim gratia e que pode ser traduzido como graça, a gratidão representa o sentimento e estado de espírito de quem é grato por determinado acontecimento, situação ou mesmo em relação a terceiros. Pelo senso comum, a gratidão pode parecer simplória ou rotineira, mas o que você talvez não saiba é que este aparentemente simples exercício de agradecer pode gerar significativos resultados também em sua saúde.
É o que demonstram os pesquisadores da Harvard Medical School, que reuniram diversos experimentos que comprovam a relação direta entre gratidão e bem-estar. O mesmo é também defendido pela professora do curso de Psicologia da PUC Minas Betim, Karina Fideles, que explica o porquê dessa sensação. Segundo a professora, a gratidão, nesse caso, está relacionada à resiliência, que é a capacidade humana de superar obstáculos e olhar para os problemas e situações adversas sob uma nova ótica.
"Quando enfrentamos um problema e somos capazes, por meio da resiliência, de dar a volta por cima e enxergá-lo com outros olhos, nos tornamos gratos por essa experiência, e é esse estado que nos faz mais felizes", explica.
Para a professora, a gratidão surge pela possibilidade de introspecção e avaliação permitida pela situação problema. "Eu me torno grata porque consigo transformar essa situação não muito boa, em algo melhor. Sou grata por ter a oportunidade de transformar esse cenário", complementa a professora do curso de Psicologia.
Gratidão pela vida
Agradecer pelos detalhes mínimos da rotina em família e procurar enxergar o lado bom da vida: esses são alguns dos princípios e exercícios que a assistente social da PUC Minas Betim, Luciana Helena, procura colocar em prática diariamente. Funcionária na PUC Betim desde 2012, a assistente social conta que tem a gratidão como um de seus principais preceitos:
"Penso que quanto mais a gente agradece, mais oportunidades aparecem e as coisas acontecem. Então, mesmo com as dificuldades, eu sempre procuro ver e reconhecer o lado bom da vida. Eu já passei por dificuldades na saúde também, precisando inclusive passar por cirurgias, mas eu sempre vejo que Deus está agindo e me mostrando o lado bom da vida. Eu me considero uma pessoa feliz por ter gratidão", relata a funcionária.
Desde jovem sendo ativa na comunidade católica, Luciana diz que o exercício da gratidão vem ajudando-a durante este difícil período de isolamento social devido à pandemia de Covid-19. Para a assistente social, a quarentena permitiu que ela notasse detalhes importantes de sua vida que, antes, poderiam passar por despercebidos.
"Agora, com este momento de reflexão, nós tivemos a oportunidade de valorizar as mínimas coisas de nosso dia a dia, como as refeições em família e o simples fato de podermos respirar. É algo tão básico e nós não reconhecíamos isso", diz.
Agradecer versus Reclamar
Foi refletindo acerca do poder da gratidão que o professor Marcelo Galuppo, da Faculdade Mineira de Direito, decidiu, junto a seu ex-orientando Davi Lago, escrever o livro #umdiasemreclamar, publicado em dezembro de 2020, pela Citadel Editora.
"Nós percebemos que o mundo está se tornando cada vez menos grato, e, para mim, a gratidão é um valor muito importante", diz o professor Marcelo Galuppo.
Com prefácio do arcebispo de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Dom Walmor de Oliveira, a obra traz reflexões acerca do poder e da importância da gratidão em nossa rotina. Por meio de alguns desafios, o livro se propõe a instigar o leitor a praticar a gratidão no dia a dia, e perceber, com a mudança de comportamento, os benefícios que ela angaria.
E você? Já agradeceu por algo hoje?