Este ano pandêmico tem exigido de todas as pessoas esforços individual e coletivo. Diante de tantas adversidades, práticas como a empatia, a solidariedade e coletividade se tornaram imprescindíveis para o bem-estar social. Entretanto, antes de olhar para o outro, é necessário voltar a atenção para si e reconhecer as próprias vulnerabilidades, limites e potencialidades. É o que chamamos de autoconhecimento. Também é necessário saber quando se priorizar em detrimento do outro. Estamos falando aqui da autoempatia.
"A autoempatia diz respeito à atenção que destinamos a quem nós somos, às nossas necessidades individuais e coletivas, ao entendimento da minha forma de estar no mundo e de atribuir sentidos e significados às escolhas que tenho feito. Está relacionada ao autocuidado e a autopercepção desse mundo interno e externo. Proporciona relações mais saudáveis e um cuidado com a nossa saúde física e mental, contribuindo para a busca do autoconhecimento. Com a autoempatia, a pessoa consegue desenvolver as habilidades socioemocionais", conceitua a professora Danúbia Godinho Zanetti, da Faculdade de Psicologia da PUC Minas.
É certo, então, que para atender suas próprias necessidades, é necessário conhecê-las. Segundo a psicóloga, o processo é contínuo e é nesse exercício que o ser humano aprende a identificar suas características, seus gostos, preferências e interesses e, consequentemente, vai fazendo a experiência de sentir, de escolher e de perceber o seu mundo interior. "Quando estamos em sintonia com o que nós somos, nos fortalecemos e buscamos saídas, mesmo quando há um imprevisto. No contexto da pandemia, esse fenômeno ficou mais claro. As pessoas se reorganizaram interna e externamente e construíram estratégias para esse novo momento", explica Danúbia.
Se é o autoconhecimento que proporciona, paulatinamente, o equilíbrio e a inteligência emocional, como, então, desenvolvê-lo? De acordo com a professora, não existe uma única ou a melhor estratégia, mas, de modo geral, pode-se refletir a partir das seguintes possibilidades:
- A terapia é um bom espaço para esse encontro. É o momento de falar, expressar sentimentos e percepções em um ambiente seguro, acolhedor, empático e livre de qualquer julgamento. "Quando falamos, acessamos o nosso mundo vivencial, conseguimos identificar os nossos conflitos e as nossas contradições e podemos ser quem realmente somos. O autoconhecimento amplia o campo de escolhas e possibilita mudanças internas e externas", explica.
- Desenvolvimento da inteligência emocional. "É a habilidade para estar bem consigo mesmo e para lidar com suas emoções e sentimentos diante dos fatos da vida cotidiana. Estar aberto para o novo proporciona acesso à forma como se está, ao mesmo tempo que convida para a mudança e para a flexibilidade diante das escolhas pessoais e coletivas".
- Desenvolvimento de competências socioemocionais. "A inteligência emocional potencializa esse campo. Ao conhecer meus limites e possibilidades me permito estar com o outro de maneira mais empática, mais solidária e mais compreensiva, sem me perder e sem me diminuir como pessoa. Ambos crescem e se respeitam nas semelhanças e nas diferenças".
- Espaço para o lazer e para as atividades que proporcionem prazer. "Esses momentos contribuem para a saúde física e mental", complementa.
A partir dessa jornada interior, é possível criar estratégias e alternativas para se adaptar, mudar ou para flexibilizar situações em diferentes ambientes: familiar, profissional, social, conjugal, dentre outros. Permite, também, a aceitação que esse processo é mutável e as situações podem ser transitórias. "Esse é um ponto importante: o entendimento da condição pessoal enquanto estado, o que significa que nem sempre fomos assim e que não estamos fadados a continuarmos nesse ponto. Enquanto estado, a pessoa está em um devir-a-ser, sempre em construção, portanto, há espaço para mudanças, para novas escolhas e para uma nova forma de perceber, de sentir e dar respostas. É um movimento dinâmico e interativo, consigo e com os outros. Ao me reconhecer na minha singularidade, eu crio possibilidades de me diferenciar e me assemelhar na relação com o outro. O meu espaço íntimo e coletivo é tão importante quanto do outo", explica.
Se os dois espaços são igualmente importantes, é necessário saber como equilibrar as necessidades individuais e coletivas. "A inteligência emocional vai balizando esse equilíbrio. O bem-estar e a qualidade de vida estão intimamente relacionadas à capacidade de tomar decisões e fazer escolhas que permitam um reconhecimento e valorização pessoal e interpessoal. Devo priorizar as necessidades individuais em prol da minha saúde mental e da minha identidade. Quando estou bem comigo mesma, tenho a possibilidade de estabelecer conexões mais saudáveis e mais prazerosas com o mundo", esclarece Danúbia.