O mês de outubro traz razões para celebrar: o Dia do Funcionário da PUC Minas e o Dia do Professor, comemorados, respectivamente, em 14 e 15 de outubro. Mas, mais do que festividades, estas datas pedem, neste ano atípico, reflexão. A pandemia alterou rotinas, virtualizou relações e exigiu de todas as pessoas paciência, resiliência, flexibilidade e empatia. Além disso, há um elemento que não pode ser esquecido, nem mesmo com as atribulações do dia a dia: o afeto. Fundamental para o acolhimento, principalmente numa instituição de ensino, é importante que o afeto seja a tônica das relações, sejam elas profissionais, educacionais, familiares ou sociais.
A chefe do Departamento de Educação e coordenadora do Curso de Pedagogia, professora Sheilla Brasileiro, destaca que a relação afetiva é fundamental para relação humana, o que inclui as relações de trabalho e os processos de ensino-aprendizagem. "Nós trabalhamos muito na perspectiva do professor não ser um mero dador de aulas, alguém que só transmita o conteúdo, mas que tenha de fato uma boa relação com os seus alunos, numa perspectiva de comunidade de aprendizagem, o que também envolve essa relação afetiva. A relação dialógica entre professor e aluno, contribui para formarmos mais do que bons profissionais, melhores seres humanos", explica.
A professora ressalta, entretanto, que o ambiente acadêmico é composto além de professores e de alunos, de funcionários que também são educadores. "Todos que trabalham no ambiente escolar são educadores. Essa relação de afeto, de respeito, de amorosidade tem que perpassar todas essas relações. Todos temos as nossas especificidades e individualidades, mas quando a gente se preocupa com a perspectiva da coletividade no ambiente de trabalho e de estudo, as coisas tendem a fluir melhor", pontua.
Nesse sentido, "cumprimentar o colega de trabalho com um 'bom dia', abrir a câmera durante uma reunião, interagir com professores e colegas durante uma aula remota ou entrar em contato com um aluno para entender sua ausência, são atitudes que ganharam valor inestimável. Passamos mais tempo no trabalho ou nos estudos do que com a família. Então, se estivermos num ambiente hostil, pesado, em que as pessoas não se ajudam, fica complicado. Agora nesse período de pandemia eu vejo que isso é ainda mais importante, porque as pessoas estão se sentindo muito sós", pontua, ao lembrar que aumentaram os casos de ansiedade e depressão, tanto de professores quanto de alunos, justamente pelo distanciamento imposto pela necessidade de isolamento social.
Nesse contexto, a tecnologia é uma grande aliada para a manutenção dos vínculos. "Estamos distantes, mas ao mesmo tempo estamos juntos, mediados pelas tecnologias digitais. Imagine que na época da gripe espanhola isso era muito mais complicado, porque não havia esses recursos", aponta. Ela avalia, entretanto, a necessidade do envolvimento real, efetivo, e do tempo de qualidade. "Como tudo está acontecendo no mesmo lugar a tecnologia está permitindo o que antes não permitia, que é estarmos em dois, três lugares ao mesmo tempo. Muitas pessoas estão sentindo dificuldade em manter o foco em uma só atividade. Então, você está numa reunião, ao mesmo tempo que participa de uma live e assiste uma aula. Na verdade, você está onde? Não está nem na reunião, nem nas outras coisas. Tentar realizar várias tarefas cognitivas ao mesmo tempo pode ser um grave erro. Iniciar e terminar uma tarefa é mais produtivo e gera menos estresse. Se conseguirmos nos manter no presente, possivelmente estaremos em maior contato com uma percepção real do tempo em que vivemos", observa.
É aí que se torna tão importante a empatia, que é o ato de se colocar no lugar do outro. "É necessário ter essa paciência, escutar o que o outro tem a dizer, não tratar as pessoas como robôs só porque estamos fazendo um trabalho mediado pela tecnologia", reflete, ao lembrar-se do conceito de escutatória do escritor mineiro Rubem Alves. "Na Universidade aprendemos muito a oratória, a falar bem, mas nem sempre aprendemos como escutar as pessoas. É um exercício que precisamos fazer e que envolve também essa questão da afetividade, escutar de fato o que o outro tem a dizer e a compartilhar com você, dar valor a cada pessoa", reflete.