Você já deve ter ouvido falar que tomar sol todos os dias faz bem à saúde. Entretanto, com a correria do dia a dia esse hábito passa despercebido por muitas pessoas. Sobretudo atualmente, em tempos de isolamento social, a tendência é que as pessoas se exponham cada vez menos ao sol. Mas ele é, sim, importante para a saúde. Isso acontece porque ele é indispensável para a produção de vitamina D pelo nosso organismo. Mas, por que esse nutriente é tão importante para o bom funcionamento do organismo? Quem explica é a doutora em Imunologia e professora do Curso de Medicina da PUC Minas, Symone Fulgêncio Lima.
Uma primeira informação interessante é que, a rigor, a vitamina D não é uma vitamina, mas um hormônio. "Chamamos de vitaminas a essas substâncias orgânicas que são essenciais ao perfeito funcionamento do organismo e que não produzimos, logo, temos que conseguir através da alimentação. Não é o caso da vitamina D. Nós produzimos o precursor da vitamina D, que fica armazenado na nossa pele. Quando tomamos sol, a radiação ultravioleta em contato com a pele converte esse precursor à Colecalciferol, que é a vitamina D3. Em torno de 80% da vitamina D que circula no nosso organismo somos nós que produzimos", explica Symone.
A importância de tomar sol já entendemos, mas qual a atuação da vitamina D no organismo? "Ela é importante para vários tecidos e é armazenada em várias células", explica a professora, o que faz com que essa vitamina atue no funcionamento do corpo de diversas maneiras. Além da sua função mais conhecida relacionada à saúde óssea, por meio da absorção de cálcio e fosfatos, a vitamina D também influencia na regulação dos sistemas cardiovascular, muscular, nervoso, metabólico e imunológico.
A imunidade, inclusive, é profundamente afetada pela vitamina D. A professora explica o porquê: "Várias células do sistema imune – linfócitos T, linfócitos B, macrófagos, linfócitos NK – tem receptor para essa vitamina D. Ela, então, modula, controla o funcionamento dessas células". Symone destaca também a associação entre a deficiência de vitamina D e o surgimento de doenças autoimunes, como tireoidite autoimune, esclerose múltipla, lúpus, artrite reumatoide e doença inflamatória intestinal. "Além disso, a vitamina D é importante para a prevenção de alguns cânceres, como o de cólon, de próstata e de mama. A deficiência de vitamina D aumenta o risco de o indivíduo desenvolver essas condições", completa.
Considerando a importância da vitamina D para o bom funcionamento do organismo, é fundamental, então, que o hormônio esteja sempre em quantidade ideal. De acordo com a professora Symone, o nível desejável é em torno de 20 nanogramas por ml de sangue, sendo que níveis entre 30 a 60 nanogramas por ml são recomendados para indivíduos de risco, idosos e gestantes. Níveis abaixo de 20 nanogramas requerem suplementação, sendo que abaixo de 10 há riscos do desenvolvimento de doenças como osteoporose, osteomalacia e raquitismo. Em contrapartida, índices acima de 100 nanogramas são considerados excessivos e podem ocasionar hipercalcemia, que é o acúmulo de cálcio no organismo. A medição do nível de vitamina D no organismo é feita por meio de hemograma e deve ser solicitada por um profissional da Saúde.
Para a manutenção desse nível ideal, são necessários vinte minutos de exposição ao sol no início da manhã ou no final da tarde, sem filtro solar, para que haja o contato dos raios ultravioleta com a pele. A exposição é a principal, mas não é a única forma de obter a vitamina D. Leite e seus derivados, cogumelos, fígado, peixes de águas frias e profundas, tipo atum e salmão, são fontes ricas no nutriente.
Com a influência da vitamina D sobre a imunidade, especulou-se sobre a sua eficácia contra a prevenção à Covid-19. No entanto, a professora Symone ressalta que, embora existam estudos sugestivos de uma ação positiva da vitamina D em relação à manutenção da integridade da mucosa pulmonar na infecção pelo novo coronavírus, não há comprovação científica. "Mais um ponto de ação da vitamina D está associado a questão da manutenção da mucosa pulmonar. Há estudos que mostram que em situações de deficiência de vitamina D há o agravamento de respostas alérgicas em árvore respiratória, tanto superficial quanto mais profunda, então, de rinite até asma. Há também estudos publicados destacando esse papel protetor da vitamina D na mucosa pulmonar em indivíduos infectados por influenza, que é o vírus que causador da gripe comum, e um outro vírus, chamado vírus sincicial respiratório (VSR). Então, aparentemente, como a vitamina D consegue auxiliar na manutenção da integridade da mucosa pulmonar, ela levaria a um quadro menos grave, de menor destruição ou de maior velocidade de recuperação dessa mucosa em um indivíduo infectado pelo coronavírus. Mas, até o momento, ainda não há nenhum dado definitivo", afirma.